14.5.12

CRISE, oportunidade e risco

Esta máxima, que faz parte do jargão sistémico, chegou-me pela via da formação em terapias e intervenções sistémicas, e sempre me fez sentido pensar a crise como oportunidade (de mudança) e risco (de impasse), como diria Salvador Minuchin, entre outros. Gosto de chavões. Ou melhor, gosto de pensar os chavões. São quase sempre muito interessantes, mas frequentemente redundam no esvaziamento do seu sentido e da sua fundamentação quando extrapolados de forma errónea.

Apesar de não me surpreender em (quase) nada, talvez apenas pela enorme falta de sentido de Estado, sensibilidade e também de compaixão, como a caracteriza Pedro Adão e Silva, a frase de Pedro Passos Coelho sobre o desemprego como oportunidade é de uma atroz falta de crítica típica do político que usa uma retórica vazia de conteúdo com o fito na legitimação da sua acção. Ironizava eu, pensando que, de facto, é uma oportunidade... de ficar excluído de um sistema central da vida em sociedade e de experimentar a pobreza.

Pensemos brevemente no sentido da máxima, que se reporta a crises em sistemas. A crise num sistema deve obrigar a mudança nesse sistema, para que este se transforme, daí o sentido de oportunidade. Mas só assim faz sentido. O ponto nodal da crise que vivemos sabemos onde está. sabemos, não sabemos? É, assim, nesse sistema que a mudança tem operar-se. Colocar a questão como a colocou não faz qualquer sentido. Os sistemas micro que vivem as consequências da crise podem fazer parte dessa mudança, sim, claro, como partes do sistema, movimentando-se colectivamente para a sua mudança. Mas neste caso, quando as mudanças operadas não são verdadeiras mudanças (de tipo II ou de 2ª ordem, como defende a teoria dos tipos lógicos), mas sim ajustes (de tipo I ou de 1ª ordem) subjugados ao poder do ponto nodal da crise, também faz sentido sentirmo-nos mais oprimidos (em impasse).

A máxima aplicada a indivíduos só faz sentido quando a crise é perspectivada como pessoal. Sabemos todos que esta crise não é um problema individual e que o desemprego não é um problema individual. Ou será que não sabemos?

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