1.4.06

Corpo, cabeça e o que mais...

Temos carreira, temos escolas, temos associativismo, temos investigação, temos (pouca) produção científica publicada, temos CORPO. Um corpo precisa de cabeça(s) com projectos que não apenas dinamizem "para dentro" mas para os que fazem parte do seu campo de trabalho e isso implica "muita cabeça".
É possível um projecto ético-político UNO para a profissão?
(A imagem é novamente de Joel-Peter Witkin)

17 comentários:

S Guadalupe disse...

Para começar peço desculpa por usar o plural, "temos", não gosto de falar por ninguém, mas deu jeito.

Anónimo disse...

Na realidade, cara S Guadalupe esse é um assunto pelo qual metenho batido há muitos anos, que melembre desde 1992.
Isto é, após a Licenciatura, deveríamos ter aproveitado o barco da unidade e criarmos as condições para um projecto profissional, onde todas as àreas se encaixassem:
Formação, Investigação, Sindicalismo, Referência Sócio-Profissional.
Um projecto que envolva num Fórum, numa Federação todas estas vertentes de algum modo já desenvolvidas, dando outra força à Prpfissão, a força de um entendimento colectivo.
Mas para isso, é necesário que muitos se despojem da sua necessidade de Ego (ou Super Ego) e partilhe, partilhe. Porque partilhar é ser solidário, e disto nós precisamos.
Como diz o ditado, tantas vezes o cantaro vai á fonte que pode ser...

Anónimo disse...

Qual Cesário Verde na deambulação pelos prelúdios da net, descubri o seu blog ao qual desejo encetar o seguinte comentário: A rever, sim senhor...

S Guadalupe disse...

jpsilva, e achas que a partilha é possível a tal ponto que aconteça uma unidade em tal diversidade?

Anónimo disse...

Fatalmente terá de ser, dado que o panorama mudou de tal modo que ninguém está seguro no seu pedestal. E, de duas hipóteses, ou caiem todos com estrondo, inclusive todo este bakground do Serviço Social, cujos cacos terão de ser apanhados no futuro, ou cedências irão ser feitas de modo a viabilizarmos um projecto comum.
Também é verdade que falta liderança. Mas esta, se calhar está disponível, é preciso é encontrar terreno fértil para ela poder avançar e congregar, há coragem, pelo menos a Norte...

S Guadalupe disse...

Bem sei...

Anónimo disse...

Concordo com o colega jpsilva.....

*Os vários miles de Assistentes Socias Portugueses e os delicados problemas que enfrentamos ( laborais, profisionais,etc. )justificam que temos de repensar num tipo de associativismo mais criativo, forte, unido e combativo.
Não nos podemos dar o luxo de estar tão fragmentados...

A tentação de uma autoridade ferrea que governe as profissões pode ser uma alternativa.
*A outra, a que eu perfilo, estará proxima de uma Federação de organismos associações e movimentos que unam a nivel nacional os assistentes sociais, os estudantes de todo o país.

Existem lideres suficientes na classe como para constituir uma "autoridade" que seja respeitada pela classe e tenham a possibilidade de dar uma projecção futura ao Serviço Social Português (SSP). (Pessoalmente estou cansado de autoridades que ficam na invisibilidade dos transfondos esquisitos.)

Deve Existir um II Congresso de Assistentes Sociais com muita preparação regional, sectorial e nacional para garantir a qualidade e maturez dos contributos. Que não signifique que as diferentes correntes da classe dividam ainda mais, pelo contrário a enriqueçam com o contributo dos debates.

Necessitamos de mais militantes e activistas de Serviço Social.
Gente com garra e paixão.

Insisto num II Congresso porque pode ser uma instância sublime para demonstrar a maturez e o compromisso com àquilo que noutro sitio falamos de Projecto ético-político, à semelhança dos nossos colegas brasileiros. Devemos fundar esta nova tradição na classe, embora incomoda muita gente...

A nossa condição de assalariados deve possibilitar um nova forma de encarar a profissão e fazer jus a nossa experiência de CEM ANOS de presença na sociedade portuguesa.

**Olhar de vez en quando para o nosso umbigo é salutar, embora hoje não parece politicamente correcto: o Neo-liberalismo instalado não nos deve cegar na necessidade imperiosa de uma solidariedade activa.

****O Serviço Social é acima de tudo a arte de unir forças.

Se isto não acontecer em breve, teremos que caminhar sozinhos até que a historia nos dé razão.

O Serviço Social como profissão surgiu como um movimentos social que deu frutos generosos em várias áreas, não podemos perder essa orientação.


alfredo henríquez

S Guadalupe disse...

..."até que a história nos dê razão" ou a razão se venha a diluir e perder. O que ficamos a perder/ganhar com a união corpo/cabeça? Agrada-me que possamos pensar que podemos unir sinergias, mas será que tal união daria voz à diferença dentro da unidade?

Anónimo disse...

Música De Trabalho

Sem trabalho eu não sou nada
Não tenho dignidade
Não sinto o meu valor
Não tenho identidade
Mas o que eu tenho é só um emprego
E um salário miserável
Eu tenho o meu ofício
Que me cansa de verdade
(...)
E quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar pra casa, pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
Do pouco que não temos
Quem sabe esquecer um pouco
De tudo que não sabemos

RENATO RUSSO

Sofia Melo disse...

A falta de união entre os profissionais da mesma classe é um flagelo. Não devia ser assim, porque aquele ditado do cravo tem muito sentido "A união faz a força". Pelo menos, para desenvolver iniciativas que dêem projecção positiva à classe: entre todos, é mais fácil, se todos trabalharem para um objectivo, não só para criar uma entidade propriamente dita... Os advogados têm uma Ordem, e de união nem se ouve falar. Falta a vontade, falta a preocupação de fundo com a classe...

Anónimo disse...

Só para dar uma última pitada:

partilho com o Alfredo que no caso Português que a proposta de uma Federação (ferderar= dar unidade), será a que mais se adequará a um Serviço Social cujas características sócio-profissionais, estão dispersas e não concentradas.

alfredo henríquez disse...

Sempre tive um carinho especial por Vinícius de Moraes... e na célebre obra que nos acompanhou durante os anos quentes das grandes lutas sociais e que perpassaram as universidades e estremeceram as velhas tiranias enfeudadas nos claustros, me ficou na memória e no coração a sua obra maravilhosa do Operário em Construção.

Um bocado farto de tanta literatura inútil sobre as profissões e da choraminguise a propósito da nossa, me reconforto
ouvindo o pema "O Desespero da Piedade", reunido por Alexandre O'Neil na obra acima referida e publicado pela Quixote.

Deixo aqui um oocadinho dele para quem goste da poesia



"(....)
Tende infinita piedade dos vendedores de
[passarinhos Que em suas alminhas claras deixam a
[lágrima e a incompreensão E tende piedade também, menos embora,
[dos vendedores de balcão Que amam as freguesas e saem de noite,
[quem sabe onde vão...
Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos
[cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas que são
[humildes nas suas carícias

Mas tende maior piedade ainda dos que
[cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu[Deus!
Tende nde piedade dos sapateiros e caixeiros de
[sapataria Que lembram madalenas arrependidas
[pedindo piedade pelos sapatos Mas lembrai-vos também dos que se calçam
[de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor
[Deus.
Tende piedade dos homens úteis como os
[dentistas Que sofrem de utilidade e vivem para fazer
[sofrer Mas tende mais piedade dos veterinários e
[práticos de farmácia
Que muitos deles gostariam de ser médicos,
[Senhor.
Tende piedade dos homens públicos e em
[particular dos políticos Pela sua fala fácil, olhar brilhante e
[segurança dos gestos de mão Mas tende mais piedade dos seus criados,
[próximos e parentes Fazei, Senhor, com que deles não saiam
[políticos também
(...) "

Que podemos dizer de nós ?


alfredo henríquez

S Guadalupe disse...

Às vezes sinto que corremos riscos de sentirmo-nos confortáveis com a piedade dos outros.

Anónimo disse...

Piedade de quem?

S Guadalupe disse...

metaforicamente falando...

Anónimo disse...

Mas afinal o que entendes por um projecto ético-politico? É uma grande palavra para algo que ainda ninguém me explicou muito bem.... Não é suposto todas as profissões terem uma? Estamos a partir do principio que não temos? Ou que temos e que não está bem? Eu tenho a minha opinião mas gostava de saber mais...

S Guadalupe disse...

gostar de saber mais, mais e mais, também eu! Na minha perspectiva não há discurso neutro do ponto de vista político. Não sendo possível a neutralidade, é possível a confrontação de diferentes perspectivas sobre o mesmo "objecto", e isso é nossa obrigação, digo eu! Mas obrigatoriamente o alinhamento dos discursos e do que se defende num dado contexto sócio-político se faz por uma determinada via. Hoje defende-se o Serviço Social como uma profissão que luta no sentido da mudança contra medidas que potenciam a exclusão e a reprodução social do status quo, pretendendo-se anti-opressiva e anti-discriminatória, etc. E isto é neutro? E a acção de todos os Assistentes Sociais vai neste sentido? Parece-me que não! E tem obrigatoriamente de ir? Essa é que é a questão essencial! Nunca gostei de carneiradas, muito menos daquelas onde as pessoas fazem parte sem sequer saber porquê, que eu apelido de acríticas. Um projecto ético-político tem de ser discutido a um nível para o qual poucos de nós estamos preparados (eu não me sinto, mas tenho tentado "ir aos treinos").