14.6.06

fraude académica


A fraude académica, que assume diversas formas, desde o "copianço" ou "cábula" ao plágio, tem consequências? É óbvio que sim! Engana-se o professor, enganam-se os colegas e engana-se o próprio. Mas, impunemente, todos pactuam. O professor fecha os olhos e, quando não o faz, muito frequentemente não tem coragem de anular a prova ou de colocar "anulado" na pauta. Confesso que só comecei a fazê-lo há pouco tempo, até agora colocava "reprovado", se fosse esse o caso, ou levava a oral. Os colegas são co-responsáveis por permitirem a fraude tendo dela conhecimento, não pondo em causa o colega! E só se apercebem que são prejudicados quando o sistema académico impõe critérios como as médias para aceder a algo. Pois é! Os meus alunos andam por estes dias revoltados porque as áreas de estágio têm numerus clausus e alguns concorrentes directos são conhecidos pela prática sistemática de fraude. Pois é!

Sem querer instituir um sistema acusatório e pidesco, algo tem que mudar. A mudança tem que ser no sistema e está para breve! Bolonha resolve! Tem de resolver... o exame cai como método de avaliação principal . A orientação tutorial em todas as unidades curriculares permite acompanhar e conhecer bem o aluno, e a relação modifica-se necessariamente. O praticante de fraude, se insistir, já não é anónimo e o processo será certamente distinto! Assim espero... Sinceramente!

7 comentários:

Sofia Melo disse...

Tens toda a razão. mas olha que na FDUC os profs não tinham (pelo menos no meu tempo) problema nenhum em anular, ruidosamente, a prova a um cábula. não os apanhavam todos, é claro, mas qdo apanhavam, era uma festa. e atenção que "cábula" podia ser uma simples e inocente notinha de rodapé num código (e iam ver os códigos da malta, muitas vezes). só os nervos de um linchamento público destes sempre me dissuadiram de copiar (a mim e a muitos), na faculdade (na escola, copiava nos testes de francês que era uma coisa parva... aqueles verbos todos!!!), mas cábulas, fazia-as sempre, porque eram um óptimo auxiliar de síntese. Nunca me chateei muito com a média, mas irritava-me à brava quando havia malta a passar nas coisas à primeira e a vangloriar-se que tinha copiado tudo.... mas não sei se Bolonha vai trazer novidedes nesse sentido - cábulas bem sucedidos, sempre os haverá...

Sofia Melo disse...

novidAdes, não novidedes...

S Guadalupe disse...

claro... quanto maior o desafio, maior o gozo. Mas boolnha obriga os alunos a terem um acompanhamento semanal em "orientação tutorial" (OT), e a avaliação deve produzir-se numa relação de avaliação contínua. Será muito mais interessante substituir a prova escrita por outros elementos de avaliação, sendo os mais objectivos os trabalhos... mas há outro tipo de capacidades e competências a adquirir e avaliar, respectivamente. Grelhas de acompanhamento terão de ser construídas de acordo com as competências especifícas a adquirir no âmbito de cada unidade curricular. E aqui não há hipótese de gandes desvios! No caso de insucesso, lá teremos de recorrer a outros critérios... estou confiante no que o novo modelo traz de positivo. a ver vamos...

Anónimo disse...

Hoje em dia, e principalmente na minha Escola (ISSSL) copia-se à grande, os profs vêem e nada dizem... Alguns até se metem de costas, vão lá fora, quase como beber um café, trazem livros e metem-se a ler atentamente sem olhar para os alunos, que nem conseguem ser uns cábulas profissionais...E depois quando estes alunos acabam os testes vem para a rua gabar-se de copiar... uma das grandes tácticas nesta escola (ISSSL) é levar folhas de rascunho de casa já todas escritas com a matéria que sai no teste e depois metem em cima da mesa e toca a passar a matéria da folha de rascunho para a folha de teste...Viva a competência dos profs do ISSSL! Viva...

S Guadalupe disse...

não penses que é só aí.... nas melhores públicas acontece o mesmo, os profs não são polícias nem devem sê-lo! Nem compreendo as vigilâncias. Devem tratar-se as pessoas como adultos e responsáveis.

Isso das folhas de rascunho é muito antigo. Há formas de ultrapassar isso. Eu assino-as e, imagina, que já me têm entregue umas folhas que não estão assinadas... Para além disso, interrompe-se o aluno, num momento x do exame, de trás para a frente na sala (nas suas costas), e assinam-se todas as suas folhas...quando isto acontece, pelo menos, os alunos ficam com receio de ser apanhados e já não ariscam tanto... é vê-los a desistir às dezenas! Adoro quando desistem: assumem a "derrota".

Mas o que eu gosto mesmo é de ter o prazer de ensinar-lhes algo e não de avaliar, muito menos nestas circunstâncias. Acontece encontrar ex-alunos que me dizem "ainda no outro dia melembrei tanto de si". É música para os meus ouvidos. É sinal que marquei pela positiva e que lhes dei algo importante.
Adoro ensinar, mas há elementos no sistenma que me fazem ficar muito muito zangada (e frustrada), por vezes. Aí apetece-me mudar de profissão! E há tantas coisas que gosto de fazer para além dsto...

S Guadalupe disse...

http://dn.sapo.pt/2006/06/18/tema/alunos_copiam_mais_paises_mais_corru.html

leia-se a notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS (16/6/06)!!!!
PARA ONDE NOS LEVAM ESTES PADRÕES ÉTICOS????

«Os países onde os alunos universitários mais admitem copiar nos exames são também aqueles onde o índice de corrupção é mais elevado. A associação entre corrupção no mundo real dos negócios e a fraude académica está traçada num estudo efectuado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), que avaliou 21 países, de quatro continentes. E os resultados mostram uma "forte correlação" entre as duas realidades.
(...)
Portugal - onde 62,4% dos alunos universitários, à semelhança do que se passa noutros Estados da Europa do Sul, admitem copiar nos exames às vezes ou quase sempre - aparece também como um dos países onde a corrupção percebida é mais elevada.
(...)
Aurora Teixeira salienta que está já demonstrado que "a corrupção tem uma relação negativa com a competitividade das nações". E por isso, defende, as instituições de ensino têm que promover uma "educação cívica a este nível, promovendo comportamentos éticos que se possam transpor para o mercado de trabalho".
(...)»

Anónimo disse...

espero sinceramente que sim.. que bolonha resolva!
isto dos "copianços" faz me sentir uma revolta ao quadrado quando vejo pessoas, que nunca fizeram uma cadeira sem cábulas, à minha frente numa lista de médias para a escolha do estágio!
irrita-me por me passarem à frente mas muito mais por nunca terem dado valor ao trabalho de quem nos ensina a ter outros valores que não estes!!
um dia mais tarde, já no mundo de trabalho.. que profissionais serão? é nisto que deveriam pensar "os cábulas" que só desprediçaram tempo e dinheiro para ter um canudo na mão.. e nunca aprenderam verdadeiramente a essência do curso!
assim não dá.. a sociedade precisa de outro tipo de pessoas!
para si um obrigado do tamanho do mundo por tudo o que me ensinou e por não "tapar os olhos" a este fenómeno que virou moda!
até um dia destes...
C.S.Agostinho