que bem vai o nosso SNS...
O Hospital do Barreiro quer dar alta compulsiva a uma doente em coma vegetativo, internada há seis anos. Para tal pediu ao tribunal uma providência cautelar para retirar das suas instalações, e apresentou à família uma factura de 200 mil euros pelos 2168 dias de internamento. Desde manhã, foi já encontrada uma solução dentro da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados... Será que este hospital não terá Serviço Social? O que terá levado a criar tal situação arrastada e extrema? Sinceramente, não percebo, mas deverão certamente existir razões para tal quadro.
19 comentários:
Guadalupe, desta vez deixaste-te levar pelo escrutínio (quase sempre) duvidoso da comunicação social sempre que toca em questões sociais. Nem tudo o que parece é, e pelo que sei do caso, não há motivos para condenar o hospital na sua actuação. Trabalho na saúde há já vários anos e casos parecidos a este já presenciei muitos. Em muitos deles a índole da família é, quanto muito, duvidosa, colocando enormes entraves a todas as propostas apresentadas pelo Serviço Social. A desresponsabilização das famílias perante situações de dependência é um facto rotineiro no nosso país. Daí ter de se recorrer, inúmeras vezes, à "bomba atómica" que é a persuasão judicial. Claro que há casos de fortes limitações familiares e até de ausência de quaisquer redes de suporte. Mas por incrível que pareça costumam ser essas pessoas as que acabam por se sacrificar mais na prestação dos cuidados necessários aos familiares. Neste caso concreto, claro que não havia possibilidades mínimas de a família receber uma doente naquele estado em casa. Mas foram oferecidas ao longo dos vários anos que já dura o internamento, várias alternativas, sem qualquer colaboração por parte da família. Situação, repito, muito recorrente em Portugal.
Bm, confesso que não esperava ler uma destas. O colega António Duarte esmerou-se na argumentação. De facto, a comunicação social nem sempre refere as coisas como são. Eu sei, e dou o devido desconto. Mas,vamos lá por partes , que eu também já trabalhei na saúde e sei como é :
1. Indole da família duvidosa - que quer isto dizer?
2.Oferece-se às famílias apoios domiciliários, na sua maioria das vezes, insuficientes para as necessidades, de pouca qualidade e superlotados ( Há excepções como em tudo e esses devem ser valorizados e reconhecidos); 3.Oferece-se às famílias lares , privados, de pouquíssima qualidade e caríssimos.
4.Exige-se à família aquilo que não lembra ao diabo,e exige-se que esta trate o seu doente com o rigor, tal qual enfermeiros especializados, sendo que estes não o fazem no hospital porque não têm tempo.
5.Em nome de precisarem de uma cama para agudos, da diária e da produtividade hospitalar, justifica-se tudo. Mesmo que a proposta que se faça seja de péssima qualidade, desumana e preversa.
Para lá chegar, aqui o colega, até acha que se deve funcionar de forma coersiva, isto é, reprimir o legitimo direito da família de recusar essa proposta, sabendo nós que para certas situações não existem alternativas com o mínimo de dignidade e qualidade.
Se o Hospital e o Serviço Social tivessem tudo no sítio deveriam por era o Estado em Tribunal , por não cumprir as suas obrigações, a Constituição da República Portuguesa e tantos outros normativos. Mas, não... a lei não é para cumprir... só se cumpre para o que dá geito. Mas, põe-se o pobre em Tribunal, a família que não colaborou. Logo, e com um passe de mágica , saiu uma vaga numa unidadesita de cuidados paliativos para a doente . Que tristeza! Verdade é que rico já tinha metido a cunha e que o caso da doentinha já estava há muito resolvido e com muita qualidade. Os Assistentes sociais são assim, por um lado reclamam e protestam contra as "desigualdades" a " exclusão" as " injustiças sociais" a "falta de recursos sociais " a má qualidade dos serviços de saúde" etc., por outro realizam uma prática profissional que escamoteia, esconde e oculta, destroi ou não constroi as possibilidades de tornar visiveis e compreensíveis essas desigualdades ec. sociais e culturais contra as quais bradam , fruto de uma determinada organização da sociedade. Ou seja, os Assistentes Sociais indignam-se mansamente e baixinho contra as consequências e trabalham , na maioria das vezes, acriticamente, mecanicamente , cristalizando e reproduzindo essas mesmas causas.
Bem, essa análise como resulta de um provocador social, é difícil de responder. Se ler com atenção o que escrevi, verifica que fiz várias ressalvas e que me estava a referir, acima de tudo, a casos em que as famílias acham que os hospitais são lares e se pudessem, a partir do 1º dia em que o familiar entrasse no hospital nunca mais lhe punham a vista em cima, exigindo que lá ficasse eternamente ou que fosse directamente para o lar, sem qualquer tipo de colaboração familiar. Sabe bem, se realmente trabalhou em meio hospitalar, que estas situações acontecem com demasiada frequência. Depois não podemos generalizar, achando que todas as respostas e recursos postos à disposição são maus, que os lares não têm qualidade, etc. E no que respeita a se "oferecerem lares privados", bem, da minha experiência o Serviço Social nunca deve encaminhar utentes para lares privados, quanto muito, poderá informar da sua existência, mas nunca encaminhar tal como o faz para uma Misericórdia, pelo menos. Quanto à actuação judicial, ela existe e infelizmente às vezes tem de ser utilizada. E isto não tem nada a ver com pobres ou ricos, já que como referi, são muitas vezes as famílias mais humildes as que mais colaboram e se sacrificam perante o seu familiar. Além disso neste caso durante 6 anos foram negociadas várias alternativas, entre as quais em Misericórdias. Penso que também não leu bem o que escrevi pois refere que por razões de produtividade se tentam despachar os doentes de forma coersiva. Neste caso a doente esteve 6 anos e do ponto de vista do problema clínico de que padece, aquele hospital já não se adequava aos cuidados de que necessitava. Os casos em que se tentam despachar camas escondendo questões de produtividade, conheço-os bem, e geralmente não duram 6 anos. Alguns duram sim 6 dias. E nesses casos a actuação do Serviço Social procura fundamentar a continuidade da pessoa, embora a última palavra pertença sempre às administrações.
António, não me deixei levar... estranehi e tentei adivinhar as razões de tal situação, tal como escrevi no post, aliás...
Mas, conhecendo muito bem o funcionamento do SNS e do SS na saúde... entendo que:
- a alta clínica foi dada à doente, mas não pode ter sido dada a alta social. Ou seja, não houve alta, pelo que se está a cobrar indevidamente os custos aos familiares;
- há uns anos atrás não existiam as estruturas hoje existentes e que permitiram, por magia, encontrarem uma solução;
- quando estas condições foram criadas,provavalmente o caso fora já esquecido "por hábito" e deixou-se andar;
- a família normalmente quer o melhor para os seus e sente insegurança noutros contextos, pelo que deve ser alvo de intervenções específicas;
- nunca devemos julgar os familiares, pois sabemos a sobrecarga que um doente dependente significa e as consequências para a saúde e vida de todos ter um dependente a seu cuidado (não estando a desculpar nenhum tipo de comportamento negligente, mas sim a tentar compreendê-lo);
- quando todos falham (os médicos não conseguiram dar à doente autonomia, as políticas sociais e o assistente social não conseguiram criar condições na comunidade), ... não pode ser apenas e unicamente a família a "culpada" e o processo judicial num caso destes só pode ser chocante, pois é desumano!
Li colega António Duarte, li com muita atenção e
deixo a todos/as umas citação da Ana Maria Vasconcelos, (e que esta me desculpe a tradução para português),frases soltas e a palavra de ordem que nos mobilizará. (Passe a ironia, mas eu sou só um mísero provocador social que está muito atrasado no tempo).
“A Assistente Social como qualquer outro trabalhador na saúde (não por displicência ou negligência mas, porque frequentemente, sem preparação ou com uma preparação teórica, ética e política frágil, não têm condições de perceber o óbvio: Tirar a realidade do anonimato, desnudá-la e publicitá-la para a classe profissional e para todos, é a base de sustentação para enfrentar com segurança, firmeza, confiança e superioridade das propostas, o medo de demissão, a subalternidade diante dos demais profissionais de saúde, a inferioridade das propostas, a submissão às regras dos ditames institucionais (suas políticas, programas, resoluções e normativos) que a maior parte das vezes constrangem os profissionais a ferir a ética” (E aqui consciência ética é entendida como um conjunto de valores, conhecimentos experiência, modos de ver e expressar-se. Mas, em Portugal o código de ética e deontológico fica nas poeiras da memória.
Parece que hoje, mais que nunca, os Assistentes Sociais) estiveram tão amedrontados, paralisados, enjaulados, o que muito se deve à desregulamentação desenfreada do trabalho, que nos coloca a todos na insegurança. Temos de “ tirar o chapéu” a este governo dito socialista e de esquerda, que conseguiu, o que outros, governos assumidamente de direita, não tiveram coragem e/ou capacidade.
E acrescento mais à reflexão o seguinte: A maior parte das vezes, o Serviço Social na Saúde, resume a sua actividade profissional a verificar a “ qualidade de pobre” dos utentes do SNS, para poder identificá-los nos critérios de exclusão determinados pela política social, (quando estão determinados…) e/ou a efectuar apoios pontuais e esporádicos, aconselhamentos, orientações e encaminhamentos diversos.
O Serviço Social, até ao caso do Barreiro, humanizava com humanidade a “ Terapia do Não”, ou seja, conseguia deixar “ satisfeito /amorfo” quem nada recebia. Agora, entrou-se na fase de, coercivamente fazer aceitar a “ Terapia do Não”, via providência cautelar, por não colaboração da família na aceitação da oferta do mínimo que o SS faz, porém não o necessário.
E é o Serviço Social que acaba por ainda fragilizar mais as famílias e doentes, fazendo senti-los isolados, submissos, desnorteados, impotentes e principalmente que se sintam individualmente responsáveis pelas suas agruras. Inseguros e vulneráveis acabam tolerando que a sua vida seja “devassada” e os seus interesses e necessidades sejam submetidos ao controle institucional, não só por parte da Assistente Social, mas dos demais serviços, que ao utilizarem os dados produzidos pelo Serviço Social, informações sociais, conversas de corredor, reuniões de equipa, impõem acções sem possibilidade de contestação.
“ Bomba atómica já para famílias de índole duvidoso “ é a nova palavra de ordem.
Nunca se desmente um provocador social...está, de facto, muito atrasado no tempo...
Lamento que tenha tempo de antena...para escrever essas barbaridades!!!
Os comentários do provocador social são absolutamente ridículos...questiono? Será este provocador assistente social?...
Também gostaria de saber quem é o/a provocador social??? Típico discurso...pseudo-inletectual!!!!
Já que a curiosidade é tanta e em simultâneo a vontade de censurar abunda, porque só se aceita uma visão das coisas, afirmo que sim, o provocador social é assistente social. E orgulha-se de o ser. E mais, mesmo não concordando com a " bomba atómica" ou " caso do Barreiro" teve a coragem de dizer as razões que fundamentam a discordância, atrasado ou não no tempo. Agora, que tal fundamentar porque o que está dito é uma barbaridade ou um discurso peudo-intelectual? A discussão ganhava contornos bem mais interessantes.
Não acham?
"O Serviço Social na acaba por fragilizar ainda mais as familias e os doentes" - barbaridade n.º 1 e fico por aqui...o resto dos seus comentários quem estiver interessado que os leia...já agora...pondere mudar de profissão!!!
Falando de fundamentações lanço um desafio ao provocador social: uma vez que tanto "desancou" na actuação do SS no "caso Barreiro" ( parto de princípio que conhece todos os contornos da situação em profundidade)qual, na sua opinião, e querendo aceitar outra visão das coisas, seria a actuação mais correcta? E...por favor...concretize! Não basta fundamentar, também são precisas acções concretas e operacionáveis.
Cara colega anónima das 10:58AM.
Não, não quero mudar de profissão, nem sair do directo, mesmo que, o volume de trabalho me impeça de comentar este blog nas horas de serviço.
Pois é, na nossa profissão a atenção ao detalhe é um aspecto importante não concorda? (Poderá sempre dizer que é estudante, desempregada ou até reformada) Pois é em nome dessa possibilidade que responderei, mesmo que já o tenha feito em comentários anteriores.
Indignei-me com a situação do Barreiro,sim senhora, mas parece que há Assistentes Sociais que concordam com o recurso ao Tribunal. Só não percebo porque não concordam com o colocar o Estado em Tribunal para se cumprir a lei portuguesa, mas isso são outros quinhentos não é MMello?
Não acham então que uma intervenção de fraca qualidade fragiliza a família e os doentes? Pois eu acho.
E já agora, digam-me lá, da vossa experiência:
1.Quantas AS escrevem nos processos clínicos a avaliação social e se as situações têm ou não alta social, e as assumem no contexto da política de saúde e outras, em correlação com a dinâmica familiar e o necessário para cada situação em particular?
2. Qual o tempo de espera médio a accionar e articular os diferentes recursos e apoios à família, quando existem? É compatível com os tempos hospitalares, por exemplo? E nunca viu “ altas precoces” em que o doente morre ao fim de dois dias de lhe ter sido dada alta? E não acha que , muitas vezes os outros profissionais de saúde rotulam de "sociais",situações clínicas com elevado grau de dependência e a necessitarem de cuidados mais especializados, que a família por si só não pode nem sabe dar,por motivos vários, e nós aceitamos esse rótulo sem contestação?
3.Como se pode programar convenientemente altas, quando se acumulam vários serviços de internamento ao mesmo tempo;
3. Como se pode programar altas com as famílias, quando o Estado, só prevê em termos das suas políticas, 15 dias de assistência à família?
4.Um problema estrutural do SNS – inexistências de unidades de cuidados continuados e paliativos (caso do Barreiro) - tem de ser resolvidos individualmente pela família e esta responsabilizada (em Tribunal)?
Mais, assim que o problema veio parar aos jornais, teve logo uma vaga no Hospital do Mar, solução de qualidade para a doente e para a família.
Mas, onde está o princípio da igualdade? Os restantes casos que existem, espalhados pelos hospitais, lares com fins lucrativos, em casa, isolados etc., como ficam?
Depois estranham que essas famílias, queiram resolver os seus problemas expondo-os na comunicação social, achando que os problemas sociais se resolvem individualmente.
E já percebi que há também Assistentes Sociais que assim “olham “ os problemas.
“Nenhuma gota de chuva se julga culpada pela inundação” …. Não é?
(PS: Hoje estou de greve)
OK, OK, vamos lá entupir os Tribunais com processos contra o Estado; casos e situações não nos faltam...
(PS: Hoje tb. estou de greve)
OK. vamos lá entupir os Tribunais com processos contra as famílias; casos e situações não nos faltam....
MMello:
Fora a minha natureza provocatória, acrescento que o Hospital do Barreiro, deveria ter referenciado a situação à “ Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados “ (RNCCI) – que foi aliás, a entidade que de um dia para o outro, integrou a doente no Hospital do Mar. É esta entidade que refere que nunca a situação lhe tinha sido referenciada.
Eu sei que esta rede ainda é um projecto-piloto, em fase de implementação mas, foi criada, se não estou em erro, em Novembro de 2006. Acresce que o Serviço Social deveria referenciar com rigor todas as situações, dado que entre outros benefícios permitiria uma correcta avaliação das necessidades. E avaliar os projectos, e dar o nosso contributo é importante, que deveriam ser transparentes e de acesso a todos (refiro que a avaliação do primeiro ano de actividade da RNCCI está on-line). Mas, às vezes, nem sabemos usar a informação disponível.
E mais, as estatísticas da actividade do Serviço Social nas diferentes instituições,são, na generalidade, pouco rigorosas, orientadas para objectivos que não se percebem, ou nunca são divulgadas, ou são divulgadas de forma restrita. Outro dia, verifiquei que as estatísticas do SS de um dos maiores hospitais do SNS, on-line, incluíam um item que denominaram “ número de procedimentos”. Bom, que quererá isto dizer? E apenas especificam na generalidade as situações dos doentes oriundos dos Palop’s. Em Portugal, com tanta situação é um deserto informativo. E os problemas mais recorrentes, outro deserto. (bom, nada de segundas intenções na frase LOL)
As instituições são pouco transparentes, e nós ainda não encontramos o meio de tirar a realidade com quem trabalhamos diariamente do anonimato, e fundamentar as necessidades.
Preocupados com o nosso umbigo, esquecemo-nos que informação é poder e que devemos sempre estar muito bem informados. Mas, assoberbados de trabalho e muitas vezes em “burn out” só vamos gerindo o caos, aguardando a reforma, como um sonho longínquo.
Debate tá animado...
Caro provocador/a social,
Permita-me parabenizá-la...os seus comentários são altamente pertinentes e actuais...espelham a realidade do SS na Saúde.
Uma profissão que não problematiza tem poucas perspectivas de futuro!!!
Embora nem sempre concorde com o provocador (viva! estamos numa democracia!! lol) desta vez e quanto ao Serviço Social na Saúde acertou na muche!!!!
Apenas uma curiosidade... quanto aos registos sociais nos processos... sabem a guerra que é fazer com que uma equipa aceite efectuá-los??? Escudam-se no segredo profissional, mas têm acesso a todo o processo sem qualquer reservas... só os outros não têm acesso à preciosidade dos registos sociais! inseguranças?????
Quanto ao processo do Barreiro é surpreendente a acção em tribunal e ouvir que foram dadas todas as soluções à família. Soluções que eram as existentes mas que não eram a solução para o problema. É verdade que não temos varinha mágica, não invento respostas, não me faço miraculosamente em solução, mas isso não nos devia dar o direito de "empurrar" a família para uma solução que não é nada a não ser desimpedir uma cama. Cama essa que é cara, custa muito aos contribuintes é verdade, mas não empurrem situações destas para lares (ja vi muitas, muitas mesmo.......) que não têm qualquer capacidade de prestar cuidados adequados. Lar é lar, unidade de cuidados paliativos e/ou continuados é outra coisa.
Ser Assistente Social na Saúde tem sido muitas vezes afirmar, fazer braço firme, e dizer não! Um não fundamentado e rigoroso... ufff é muito difícil, "levamos muito na cabeça", tem dias que apetece baixar os braços e mandar tudo para as ortigas e quem sabe ir plantar batatas... mas no dia seguinte segue-se em frente!
Recorde de comentários numa só caixa.!
O provocador social, passou de besta a bestial......social.
O SNS tá de rastos, como todos sentimos. Melhor estará quem se trata como os Mello!
Alta Social......primeiro a Ordem, depois pô-los na ordem.
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