28.2.08

para além da empregabilidade


...deveríamos reflectir e perceber que tipo de empregabilidade têm actualmente os nossos recém-diplomados.

Um destes dias um comentário remetia para a situação difícil dos anos 90 para a nossa área. Eu acabei o curso em 1995 e estive 1 ano à procura do primeiro emprego, tendo neste período dado apoio a uma docente americana de inglês ao ensino básico (1º ciclo) integrada num protocolo com a International House. Fui então convidada para colaborar como supervisora de estágio na escola que me diplomara e, entretanto, consegui emprego numa instituição privada na área da saúde mental, área onde havia estagiado. Tudo isto no espaço de 1 mês. Foram 4 anos com vínculo precário e uma tese de mestrado concluída pelo meio. Lembro-me na altura do imbróglio do concurso da Segurança Social que integrou a nível nacional 400 assistentes sociais para trabalharem no RMG, do qual desisti, mas onde estiveram envolvidos vários amigos meus... a coisa arrastou-se durante uns meses largos. Na altura muitos colegas conseguiam integração na função pública aventurando-se para as ilhas... Era assim.

Nestes últimos anos, com a proliferação de IPSS's e com a consolidação de algumas políticas sociais nas quais temos um papel de relevo, tudo tem sido mais fácil, acreditem! Claro que nenhuma situação de desemprego em particular é de desvalorizar, mas o desespero a que assisto por parte dos alunos mal acabam o curso também é sobredimensionado.

Não me preocupa tanto a rapidez com que conseguem integrar-se no mercado de trabalho, preocupa-me muito mais a vida a curto prazo, a precaridade e exploração a que se vêm sujeitos durante ou após os estágios profissionais. O futuro de uma geração pode estar em causa. Que planos de vida podem fazer?

2 comentários:

Anónimo disse...

Sónia,

Para além de "alguma negatividade" na apreciação individual da situação do mercado de trabalho, em geral e, em particular, para os actuais e futuros Assistentes Sociais, não há muitas dúvidas relativamente à contenção da oferta de trabalho. Concordo consigo quando escreve que a maioria de nós passou por trabalhos precários, mesmo nos anos 90.
Não tenho dados objectivos para afirmar que esta "crise" é diferente das anteriores, mas arriscaria a dizer que o clima capitalista não é de expansão das politicas sociais. Na altura Portugal estava em cintracíclo com os países europeus: eles a começar a retaraír e nós ainda em expansão.
Finalmente diria, no seguimento das suas ideias, que não vale a pena "chorar" sobre o passado e sobre as desgraças. Peço desculpa se ofendo quem está a passar um mau bocado, mas há que agir e encontrar nichos de acção para resolver o problema.
Os mais novos têm o problema do acesso e os mais velhos têm o problema de serem considerados "inúteis" pelos serviços que foram redimennsionados (reparem no eufemismo) e, neste contexto os Assistentes Sociais já não serão precisos.
A lógica de alguma "engenharia social" mecaniza a resolução de muitos dos "chamados problemas sociais". Onde cabemos nós?

S Guadalupe disse...

Ainda que olhar para a situação desta categoria profissional faça mais do que sentido, os Assistentes Sociais deveriam ter uma posição sobre o que alguns chamam a "nova Questão Social", em que o desemprego e as novas relações com o emprego como meio princeps de inserção social num contexto capitalista, começa a entrar em crise (ou já havia entrado há muito). Como diz o david, em contraciclo e fora de tempo. Ainda mais preocupante parece ser tendo em conta que todas estas questões se colocam de forma quase retardada, como se fossem passíveis de antecipação.

Não me remeto apenas para a nossa área... mas que lógica tem a Europa decidir pelo encurtamento dos períodos de formação se não precisa desta produção acrescida de trabalhadores qualificados? E esta é apenas e só uma vertente da crise social na qual estamos há muito e que alguns vêm vaticinar para o futuro.