Desemprego e diplomados em Serviço Social: a situação em Portugal e o caso do ISMT
«Estudo sobre “O Estado actual da formação em Serviço Social em Portugal”, realizado no âmbito do Núcleo de Estudos e Investigação do Mestrado em Serviço Social do ISMT e apresentado no Seminário Euro-Brasileiro “Serviço Social, Informação, Qualidade & Desenvolvimento”, no passado dia 20 Fevereiro, revela informações contraditórias face às conclusões do Relatório “A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior”.
O Relatório “A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior” do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) do Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, divulgado na semana passada, baseou-se nas seguintes fontes: candidatos a emprego inscritos nos centros de Emprego do IEFP e na informação dos diplomados fornecida pelos estabelecimentos de ensino superior e recolhida, anualmente, por este Gabinete.
O Relatório “A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior” do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) do Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, divulgado na semana passada, baseou-se nas seguintes fontes: candidatos a emprego inscritos nos centros de Emprego do IEFP e na informação dos diplomados fornecida pelos estabelecimentos de ensino superior e recolhida, anualmente, por este Gabinete.
Numa análise dos dados que vieram a público e após a consulta detalhada do Relatório e das estatísticas “Diplomados/ Desempregados”, publicadas pelo GPEARI, verificamos que as conclusões do estudo assentam no cruzamento de informação recolhida em períodos distintos, o que distorce a realidade. Por um lado, há registo dos desempregados até Dezembro de 2007, mas por outro lado, o número de diplomados só diz respeito até ao ano-lectivo de 2005/06, não tendo sido incluídos os que concluiram os cursos nos estabelecimentos de ensino superior até Dezembro de 2007 e que entretanto se candidataram ao emprego.
Confrontando os dados do Relatório e os dados recentes do nosso estudo, o panorama do desemprego dos diplomados em Serviço Social em Portugal apresenta-se sensivelmente diferente.
O curso de Serviço Social foi integrado na área designada dos “Serviços Sociais” que abrange cursos como Animação Sócio-Cultural, Educação Social e Política Social, provocando uma leitura enviezada da situação dos diplomados em Serviço Social.
Segundo dados do citado Relatório, 4,5 % dos desempregados diplomados em estabelecimentos de ensino superior são da área dos “serviços sociais” (1735). Esta área diplomou 12719, isto é 2,2 % do total dos diplomados no ensino superior entre 1996/97 e 2005/06. Incidindo a nossa análise sobre os licenciados em Serviço Social, verificamos que este é o curso mais representativo na área.
Entre 1996/97 e 2005/06 diplomaram-se 5869 em Serviço Social e em Dezembro de 2007 encontravam-se registados nos centros de emprego do continente 812 Assistentes Sociais. Destes, 416 procuravam o 1º emprego e 316 procuravam um novo emprego, todos há menos de um ano. Registe-se que procuram emprego há mais de um ano, 80 Assistentes Sociais: em relação ao 1º emprego (29) e a um novo emprego (51).
A diferença entre a percentagem dos desempregados e a percentagem dos diplomados, isto é o coeficiente de distribuição, é de 2,3 para a área dos “Serviços Sociais”, contra 1,09 para o Serviço Social.
Se atendermos à informação disponibilizada no Relatório sobre os diplomados em Serviço Social, regista-se que há referência a desempregados (mais de 5 dezenas) por parte de Estabelecimentos de Ensino Superior (6 do ensino público e um do politécnico privado), não sendo dada informação sobre o respectivo número de diplomados.
Trata-se de estabelecimentos que ou lançaram os primeiros licenciados em Serviço Social em 2006/07, ou não diplomaram nenhum Assistente Social, por terem sido criados recentemente (2005), ou ainda os cursos que já existiam com outra designação e que, com a adequação ao processo de Bolonha, passaram nos dois últimos anos a denominar-se de Serviço Social.
A esta situação acresce a ausência de dados sobre todos os diplomados em Serviço Social em 2006/07. Veja-se a este propósito o caso do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT) . Este Instituto diplomou entre 2003/4 a 2005/06 493 Assistentes Sociais. Até Dezembro de 2007 diplomou mais 326, que não foram tidos em conta para o cálculo do índice total de desempregados/ diplomados. Os dados oficiais apontam 0,41 quando na verdade, o índice relativo aos 819 diplomados para os 203 desempregados, no período em análise é de 0,25.
Apesar do nosso país ainda estar longe de atingir as percentagens de diplomados pelo ensino superior dos países mais desenvolvidos da União Europeia, começa já a apresentar problemas de desemprego.
Ora, se o desenvolvimento do país não pode prescindir de recursos humanos qualificados, o que se regista nos últimos 3 anos é uma redução significativa do emprego para quadros superiores e dirigentes da Administração Pública e empresas (vejam-se Estatísticas de Emprego, INE).
No caso do Serviço Social verifica-se, por um lado, nos últimos anos o crescimento desta licenciatura em escolas privadas, mas sobretudo públicas e consequentemente de vagas, inscritos e diplomados, e por outro lado, a perda crescente de emprego na Administração Pública, que não é invertida pela criação de novos empregos por outros sectores.
Assim, a situação de desemprego e de emprego precário preocupa-nos. No entanto, no contexto geral dos diplomados em Portugal, podemos afirmar que ainda existe uma boa empregabilidade para os licenciados em Serviço Social, nomeadamente pelo Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), contrariamente ao divulgado pelo Relatório e meios de comunicação social.
Continuamos a apostar no futuro do Serviço Social em Portugal.»
Alcina Martins e Maria Rosa Tomé
Docentes da licenciatura e mestrado em Serviço Social do ISMT
6 comentários:
carla santos santos.s.carla@gmail.com 02-03-2008
É também por isto que o Serviço Social está como está. Alcina Martins, uma referência do S.S., autora de livros que englobam as bibliografias dos nossos trabalhos ao longo do curso, está a querer distorcer a realidade em vez de alertar para o caos em que os licenciados em Serviço Social estão a viver. Não é a distorcer a realidade que se vai mudar alguma coisa. Os renomes do S.S. não podem dizer que está tudo bem, quando não está! Qual é o problema afinal? Estão com medo que o curso deixe de ter tanta afluência de alunos? Porque é que não mostram a realidade como ela é?
mjoao mjoao006@gmail.com 02-03-2008
Sem comentarios!!!
"existe uma boa empregabilidade para os licenciados em Serviço Social, nomeadamente pelo Instituto Superior Miguel Torga"
Eu sou licenciada pelo Instituto Superior Miguel torga, ha quase tres anos.. e ate hoje so tive a oportunidade de realizar o estagio profissional..
SEM MAIS COMENTÁRIOS
Deixem que faça um reparo: distorção dos números é do Ministério. Estas pessoas são sérias e estão apostadas em encarar seriamente estas questões. A classificação de BOA EMPREGABILIDADE baseia-se nos indicadores do próprio ministério (nomeadamente os usados na avaliação dos cursos).
MAS...
- a situação está em viragem, claramente, não por culpa desta ou daquela instituição de ensino, mas porque o ministério autorizou a abertura do curso por tudo o que era escola privada e pública, não alterando os numerus clausus dos cursos já existentes!;
- dados sobre a inserção laboral dos que conseguem empregos precários em áreas que nada têm a ver com o seu diploma não constam dos números disponíveis...
E ATENÇÃO
a situação é preocupante, como já disse muitas vezes... para todos os jovens de quase todas as áreas... e não só e apenas para Serviço Social.
Conheço casos dramáticos... Mas apesar de cada caso concreto não podemos ignorar os números e as campanhas feitas com base em dados baseados numa metodologia errada. São coisas distintas!
Se não se tivesse permitido a abertura de mais cursos de Serviço Social (no espaço de 2 anos lectivos, abriram sensivelmente 6 cursos), nem o aparecimento de outros sucedâneos do Serviço Social, como é o caso de intervenção comunitária, mas não só, e se não se tivesse cometido o mesmo erro em relação à sociologia...
Enfim, o diagnóstico do problema está feito, toda a gente já percebeu onde se colocou a "pata na poça". Resta saber qual será a estratégia a seguir para o resolver (se é que de facto existe essa intenção). E ainda se a qualidade da maioria dos cursos novos fosse confiável...
A questão é que o diagnóstico está feito mas para quem está interessado e inteirado da situação, como é o nosso caso...
A questão é que o Ministério não faz a mínima ideia do estado de coisas nalgumas áreas.
Caso não saibas, os cursos do ensino privado são avaliados à lupa para obterem aprovação e licenciamento... os cursos do ensino público são aprovados autonomamente pelos conselhos científicos, sendo apenas registados no ministério, ao abrigo da autonomia das universidades... Depois há universidades e politécncios em tudo o que é canto neste país...
Claro que há áreas "sagradas" onde tal não acontece. Mas se todas as áreas tivessem a mesma vigilância que MEDICINA tem nada do que aconteceu com DIREITO, ECONOMIA, GESTÃO, SOCIOLOGIA, PSICOLOGIA OU SERVIÇO SOCIAL teria acontecido...
A forma como foram divulgados alguns números pelo MCTES parece remeter a "culpa" para as instituições formadoras e isso é absurdo!
"Caso não saibas, os cursos do ensino privado são avaliados à lupa para obterem aprovação e licenciamento"
Este sim, é o verdadeiro agumento(zinho)dos melhores aqui do sitio, este sim deixou-me verdadeiramente sem palavras!!!!ehhhh
Os cursos das privadas são aprovados entre jantaradas e propostas feitas a sub-secretários, secretários de Estado e Ministros que se aprovarem os respectivos, depois vão para lá dar aulas, ou fazer parte dos tachinhos das cooperativas que no caso da "Dinensino" até um Jaguar deu de prendinha ao Paulinho "Doors"!
Isto para não falar de todos os "esquemas" de alto nível que o povinho pouco sabe e nem desconfia!
As cooperativas de Ensino, são na minha opinião, os "empreiteiros da era moderna! E foram elas, que rasgaram o Ensino Superior a meio, nem tenha qualquer dúvida disso! Bem, mas disso nem me alongo mais, que o assunto é fragil!
Agora histórias (zinhas) de que os privados têm um rigor demolidor, isso a que acho que é conversa para embalar o famoso "vitinho".
Têm rigor sim a cobrar as propinas e carrgar nos calcanhares dos alunos, com taxas e cadeiras atrasadas, etc...esse rigor, acredito!
Viva o Uzbequistão
Ok, tens até alguma razão, embora não possamos generalizar... ainda acredito que vivo num país onde há pessoas sérias a trabalhar em instituições sérias e onde nem todos são corruptos.
Depois, deves acreditar que falo do que conheço e não quiz embelezar a coisa para o lado de alguns. Há de tudo. Na área de Serviço Social até há o caso do ISBB que foi criado de um dia para o outro, com o ano lectivo já em funcionamento, tendo aberto o curso com 5 anos lectivos a funcionarem simultaneamente com o plano curricular fotocopiadao do ISSSC.
bem... passado!
Dizia-te que sei do que falo. E mais não adianto, porque contigo não adianta! Tenta uma única vez sublinhar algo pela positiva. fazia-te bem à vida!
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