23.6.08

lares de idosos

Não é com surpresa que lemos nos jornais que "número de lares em Portugal duplicou em 14 anos" (JN 2008-06-13). Também não surpreende esteve investimento nas unidades que parecem trazer maior capacidade de retorno às entidades que as promovem... Estava era habituada a que Portugal, atendendo ao seu atraso de desenvolvimento, aproveitasse para passar ao patamar seguinte sem passar pelos intermédios. Fomos a isso habituados, de certa forma nalgumas áreas.

«(...) em 1992 eram cerca de 30 mil e em 2006 mais de 61 mil. Mas há muita gente triste nestes espaços. "A institucionalização atenua, não resolve", diz Ester Vaz, autora do estudo "A Velhice na Primeira Pessoa".
Já sabíamos que Portugal está a envelhecer a olhos vistos: dentro de 40 anos teremos mais um milhão a somar aos 1,78 milhões em 2005. Mas agora, temos mais um dado: de acordo com as investigações levadas a efeito pela socióloga Ester Vaz, os equipamentos sociais existentes no país aumentaram de "forma exponencial" nos últimos 14 anos, mas as respostas encontradas nem sempre estiveram de acordo com a vontade e desejos das pessoas. "Não é líquido que a resposta institucional seja a mais adequada. Antes da Segurança Social ter anunciado a construção deste tipo de equipamentos, deviam ter existido estudos preliminares sobre a vontade das pessoas, mais respeito pela sua individualidade e sentimentos", diz, enquanto contrapõe a "diversificação de opções" para acolher as pessoas de idade avançada. Em declarações ao JN, a investigadora considera a existência de lares como "um mal menor" e preconiza, antes, uma mudança de paradigma, outro olhar da sociedade perante a velhice. "Os estudos têm vindo a demonstrar, de forma inequívoca, que as pessoas manifestam interesse em manter-se no seu ambiente familiar associado ao seu percurso de vida, em vez dos lares, muitas vezes desenraizadas, sem conhecimento e partilha de vivências dos seus utentes. As pessoas mais velhas devem decidir o contexto onde pretendem ficar", enfatizou. (...)»

3 comentários:

Anónimo disse...

Cara Sónia Guadalupe,

A minha insistência é sobretudo mais um "desabafo profissional" do que um comentário ao trabalho da Ester Vaz e à notícia da SIC sobre as famílias de acolhimento.
Confesso que me falta a paciência para compreender aquilo que eu considero ser um discurso redondante sobre que tipo respostas a dar ao envelhecimento em Portugal. Não é o caso destes dois trabalhos.
No que se refere aos estudos sobre envelhecimento e a qualidade de vida dos idosos e de outras pessoas com as mesmas dificuldades psiquicas e físicas, é sabido que o internamento em lar piora a qualidade de vida dos internados por comparação com aquelas que não estão internados. Há estudos que vão mais longe: As pessoas internadas morrem mais cedo do que aquleas que não estão.
Bem, isto levava-nos um pouco mais longe na discussão dos resultados já encontrados. Mas é para tomar nota.
A minha experiência profissional, longa de mais de 25 anos a trabalhar com idosos e adultos incapacitados, diz-me o seguinte:
- Só conheci um doente idoso que clara e inequivocamente me disse que queria ir para um lar;
- Todas as outras pessoas aceitaram o lar como escolha "forçada", ou seja, para não prejudicar os filhos, porque não havia alternativa que permitisse uma escolha efectiva, o que significa às vezes uma demissão forçada da família (circunstâncias da vida actual) em prestar cuidados.
Claro, os investidores privados, cheios de capital e com a pressão das pessoas à procura de apoios INVESTEM EM LARES.
Fico sempre surpreendido com a teoria do mal menor... é uma fatalidade!!!! Todos temos responsabildades nisto, mas de facto é uma empresa dificil contrariar a situação.
Os hospitais, dizem, estão "cheios de camas sociais (!)", as famílias não podem cuidar dos seus familares, porque...porque...
Há famílias que querem "adoptar" idosos (famílas de acolhimento, mas os Serviços não divulgam a legislação e parecem não se interessar por este tipo de resposta social que aparentemente é mais humana, menos comercial e mais adaptada às necessidades das pessoas.
Contudo, registo da reportagem da SIC que uma idosa disse que estava muito bem, bem tratada, com muito amor e carinho, mas havia um MAS. Há sempre um mas...Gostaria de estar na sua casa. Isto sim, é importante registar: o que pensam e dizem os interessados sobre as suas necessidades.
Seria interessante perguntar às pessoas que têm agora 55 anos e mais o que pensam e querem se porventuira ficarem incapacitadas? Sim porque o problema é quando ficamos incapacitados...Sabe Sr. Dr. se ao meno o meu pai/mãe andasse...se pelo menos se alimentasse sózinho...e por aí adiante.
Já vai longe o meu "desabafo profissional", termino dizendo que é importante dialogar sobre estes assuntos sem ideias pré-concebidas, mas também sem demagogias.
Reconheço que o trabalho da Estar Vaz e a reportagem em causa são um exemplo muito possitivo neste domínio.
Agradecido.
David Costa

S Guadalupe disse...

Concordo que os investimentos têm desvirtuado os caminhos defendidos como os que favorecem melhor a vida dos sujeitos.

No entanto, vejo os lares inseridos numa lógica de vida em sociedade que não permite, mesmo que se queira, ter condições de acompanhamento intergeracional. Não falo apenas das gerações mais velhas... as crianças hoje ficam entregues a instituições quase desde que nascem. No entanto, os estudos de desenvolvimento infantil favorecem mais o seu enquadramento institucional e sempre temos as desculpas de que estão a aprender e a conviver.

SE alguns idosos não estivessem em lares, seriam totalmente negligenciados, não porque as famílias não os queiram apoiar, mas porque não são capazes de responder a todas as suas obrigações sociais simultaneamente. Não sei se será um mal menor, mas que o seja, por vezes. Há uso abusivo? Há!

Tenho uma aluna a fazer um trabalho de mestrado para tentar descrever as situações que favorecem a manutenção em casa e as que favorecem a institucionalização, partindo de amostras de idosos em SAD e em Lar. Provavelmente vai ser uma obviedade, mas temos de conseguir fundamentar o que sabemos por experiência. A ver vamos.

Duarte disse...

É necessário investir muito em apoio domiciliário, não só em termos quantitativos, como também em termos qualitativos. Ou seja, não só dotar os SAD de maior capacidade de chegar a mais pessoas, mas também de diversificar a oferta, apresentando mais actividades de acompanhamento que permita ter respostas mais personalizadas a cada situação. Por outro lado, é preciso aumentar o apoio económicos aos cuidadores informais, já que medidas como o Complemento por Dependência não chegam. Vejo investir-se muito mais em lares e respostas semelhantes (por ex., as unidades de cuidados continuados), do que no SAD, e isso é algo que me preocupa. Também considero que nesta matéria as autarquias pouco têm feito. Vejo câmaras municipais investirem no social mas de uma forma casuística e pouco planeada. Ora aí está uma área que bem precisa de investimento e que deveria constituir uma prioridade na política autárquica.