5.3.10

o problema é a má distribuição da riqueza

«Economistas oscilam entre flexibilizar o trabalho e distribuir bem o lucro. A solução para acabar com a pobreza em Portugal deve assentar na economia, diz o especialista Bruto da Costa. O que dizem, então, os economistas? Uns que é preciso flexibilizar o trabalho, outros que é preciso distribuir bem a riqueza. Em que é que ficamos? O problema principal de Portugal prende-se com a distribuição da riqueza", começa o economista Luís Bento, professor na Universidade Autónoma de Lisboa e membro do Grupo de Paris de Ética e Responsabilidade Social. Pormenorizando, este economista explica que "em Portugal remunera-se muito melhor o factor capital do que o factor trabalho". Ou seja, enquanto que nos países escandinavos 30% da riqueza gerada pelas empresas é para remunerar o capital (accionistas), 30% o trabalho (trabalhadores) e 40% para reinvestir, num balanço visivelmente equilibrado, aqui a remuneração do capital é muito mais elevada do que a remuneração do trabalho. Curiosamente, afirma Luís Bento, "Portugal tem uma riqueza global muito perto da gerada na Finlândia, o problema é que não sabe distribuir a sua riqueza".Para o economista e professor da Universidade Católica João César da Neves, nos antípodas desta perspectiva, o problema da pobreza em Portugal prende-se com "a constante asfixia das empresas portuguesas". "As empresas são asfixiadas com impostos e, sendo assim, optam pela precariedade, pelos salários baixos, até porque muitos empresários também são pobres. Por outro lado, as leis que são criadas para proteger os trabalhadores também ajudam a bloquear a economia. A economia faz-se através da flexibilização laboral", resume. Luís Bento desmonta esta visão. "É verdade que a maior parte (86%) do nosso tecido empresarial são pequenas empresas, mas esses 86% só geram 30% da riqueza. Os outros 70% são gerados pelas grandes empresas - telecomunicações, energia e sector financeiro - que têm muito lucro e poderiam pagar bem aos trabalhadores, bem como aliviar a pressão sobre a economia, se não estivessem obcecados em remunerar tão bem os seus accionistas", explica. Basicamente, se as grandes empresas pagassem melhor aos seus trabalhadores, estariam a aumentar-lhe o poder de compra e, obviamente, a aumentar a procura interna e a dar vida às pequenas empresas que são as que empregam 91% dos trabalhadores. A nossa legislação “não é assim tão restritiva para as empresas” A falta de flexibilidade laboral é um dos factores apontados por João César das Neves para não conseguirmos reestruturar a economia. Luís Bento entende que a nossa legislação não é mais restritiva para os empresários dos que a de países como a França ou a Alemanha, e, no entanto, estes conseguem ter um nível de vida melhor. A justificação é simples: “Esses países não vêem a legislação como um obstáculo. Mas como algo que têm de gerir”, afirmou Luís Bento. Para este economista haverá três formas de contornar a pobreza que assola o país. “Em primeiro lugar, é preciso distribuir bem a riqueza. Em segundo lugar, é preciso combater os factores de subdesenvolvimento como, por exemplo, a falta de qualificação; e em terceiro lugar é preciso abandonar a lógica assistencialista. O Estado não pode tudo.»
Fontes: Jornal de Notícias 22-02-2010, ISS INFORMA nº 186 26-02-2010

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