26.2.08

do caso à estratégia e à política

Há alguns sintomas que a profissão apresenta e nos quais é necessário reflectir.


Ontem apanhei já a meio uma reportagem da TVI sobre a situação dos idosos e da sua pobreza envergonhada. Tendo em conta a relevância da doença nesta população, foram entrevistar médicos e uma colega assistente social do Hospital Amadora-Sintra. Estes declararam lidar frequentemente com enormes dificuldades porque, para além da situação de doença, tinham de lidar com a situação social. A colega falou dos casos sociais e da forma como lidavam com estes, nomeadamente quando se verificavam situações mais extremas de abandono. Ora, percebi que têm resolvido a situação através de um protocolo com uma instituição privada como forma de transição para uma resposta da Segurança Social.

Não pretendo apreciar criticamente esta situação em particular. Há que dar resposta às situações e ponto final! No entanto, parece-me importante dizer o seguinte: os "casos sociais" (ou situações que apresentam problemática social, como prefiro dizer) e a forma como lhes respondemos no nosso serviço, devem ter resposta por nós equacionada, mas devem sobretudo servir para que se proponham estratégias mais globais e gerais que possam eventualmente contribuir para políticas social (e neste caso, de saúde) mais justa. Sabemos que entre o ideal e o real vai um largo passo, mas deveremos desistir de alcançá-lo para nos dedicarmos apenas e só à gestão do quotidiano? Haja coragem! Se os colegas que trabalham em hospitais sistematicamente lidam com situações críticas que não têm resposta efectiva e devidamente enquadrada (mas sim uma resposta encontrada por malabaristas)... e sabemos que assim é... juntem-se, juntem os vossos dados e proponham um projecto de política social na área, sabendo que os cuidados continuados não respondem a situações que necessitam de respostas definitivas. Não descansem enquanto as situações não tiverem uma resposta de pleno direito!

8 comentários:

Anónimo disse...

Cara Guadalupe

Concordo plenamente consigo.
Mas parece-me pertinente colocar as seguintes questões:
- Quem organiza os profissionais?
- Como e com que estratégias?
-...
Este é o problema de base, existem muitos profissionais com elevadas competências que "alinhariam" neste projecto, mas não sabem como e com quem, ou seja como começar!?
É urgente reflectir também sobre isto.
Sugiro que seja criado, por exemplo,um grupo na AIDSS para estas questões, e/ou que se elabore um documento e publicado via online, com a possibilidade dos profissionais colocarem as suas propostas, entre outras...
Vamos lá e como disse ontem o nosso 1º ministro acerca da centralização dos serviços de saúde existem menos erros técnicos se os probelmas os diagnósticos forem confrontados entre vários profissionais, neste caso Assistentes Sociais.

Anónimo disse...

Cara Sónia Guadalupe.

Também assisti à reportagem que refere. Não beliscando o trabalho jornalístico, para mim foi um "dejá vu", como para quase todos nós, sobretudo aqueles que estão, como dizemos, no terreno.
Compreendo o sentido da seu post, mas...
Não há estratégia sem objectivos e aqui nós Assistentes Sociais, perante "as situações problema" agimos frequentemente de forma individualizada e poucas vezes em grupo.
Convém referir que os interesses dos diferentes agentes perante o "problema" é visto e intrepretado de diferentes formas. Uns querem que os serviços públicos se responsabilizem pelos idosos e adultos incapacitados, "os dirigentes" querem que os doentes incapacitados tenham alta. Nós, Assistentes Sociais queremos o quê?
Simplisticamente, direi que qeremos que estas "duas instâncias se entendam".
Tenho reflectido, muitas vezes, individualmente e com colegas para apontar caminhos para resolver um pouco este problema que vai crescendo. Temos influenciado alguns dirigentes, mas a questão (política) ultrapasssa o nível dos nossos dirigentes directos.
Sabe, é aqui que falta a "Ordem" para realizar estudos ou rastreios destes problemas e falar deles à sociedade.
No meu post http://pensarotrabalhosocial.blogspot.com/2008/01/adultos-incapacitados.html, já escrevi um pouco sobre este "fenómeno".
Sabe, também, que a Acção Social neste capítulo é subsdiária relativamente à ajuda às famílias e como tal...responde (!?) ao requerido e caso a caso.
Termino, escrevendo que apenas quero dar a minha opinião, sem dúvida parcial e incompleta e transmitir que o seu post, poderá ser mais um contributo para a letargia em que nos encontramos.
Cordialmente,
David Costa

Anónimo disse...

Vi a reportagem, conheço bem a colega e o seu trabalho.Trabalho tambem numa instituiçao hospitalar, bem longe desta realidade urbana...e em menor escala... acontece exactamente o mesmo. Ou seja, basta conjugarmos os seguintes factores:Envelhecimento da população;hospitais dimensionados (em nº de camas) para um numero de habitantes, actualmente desproporcionados; listas de espera;aumento da esperança de vida com o inevitável prolongamento das dependencias; etc, etc...Quem trabalha nos Hospitais sabe bem que a questão central é a gestão das camas/é a lei da oferta e da procura.Verifica-se um vazio de resposta social entre "aquilo"(pessoa/doente ou pessoa com doença)que é da saude e "aquilo" que é da segurança social..etc... etc..toda a GENTE(governantes)sabe disto, não é novidade nunhuma. Os idosos saiem "caros" ao Estado. "ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS".
VIVA O SERVIÇO SOCIAL!!!
LLPF

S Guadalupe disse...

Nunca trabalhei num Hospital, mas conhecço bem o trabalho hospitalar através dos estágios e do contacto com os colegas e o tipo de dificuldades que são apontadas é sistematicamente o mesmo. Concordo convosco: é necessário fazer algo que permita pensar em conjunto.

Se conseguimos fazer com que algo mude relativamente às chefias mais próximas (como diz o David C), deveríamos tentar relativamente às mais distantes...

sou uma optimista. Acho que há muito trabalho válido. É só conseguir encontrar os caminhos!

Anónimo disse...

O que fazer concretamente? A APSS não pode dar uma ajuda?...

S Guadalupe disse...

talvez, mas este tipo de iniciativas não pode ocorrer de cima para baixo, mas ao contrário. Claro que a partir do momento em que uma destas iniciativas reunir condições de ser bem sucedida, ou seja, de se constituir como irterlocutora junto do(s) poder(es) de decisão... estarão reunidas as condições desta profissão contribuir decisivamente para as políticas sociais, contribuições estas muito indirectas até então.

FCR disse...

A APSS pode dar a ajudinha,existe muito espaço disponível para a constituição de um grupo disposto a trabalhar em soluções. A APSS é dos sócios,e parafraseando o prof.Ernesto:" Acreditando na terapia da reflexão e da escrita, recomendo como..." o lugar onde podem e devem fazê-lo.
Fátima CR

Presidente do Inatola disse...
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