25.1.09

Desemprego à bolonhesa

A adopção do Processo de Bolonha teve diversas implicações directas no ensino universitário, como é amplamente reconhecido.
Outras implicações há relativamente às quais tenho ouvido pouco ou nenhum discurso. Já aqui disse noutra ocasião que não percebia porque razão a velha Europa havia apostado em ciclos de ensino superior tão curtos. Isto porque não apresenta uma necessidade tão premente assim de pessoas com formação superior tão cedo no mercado de trabalho, nem tem capacidade para oferecer-lhes condições de empregabilidade. No caso português, a adopção deste processo parece servir apenas e só interesses economicistas, já que contribui para que o ensino público veja diminuídos os seus custos drasticamente (relativamente à formação graduada) e aumentadas outras possibilidades de receitas adicionais (ao nível do 2º e 3º ciclo).
As "fornadas" de licenciados a sair são sucessivas e cada vez mais aceleradas, com formações menos consolidadas... A evolução do desemprego nos recém-licenciados reflecte esta dimensão, entre outras, claro está... Por quanto mais tempo esta política vingará? A analogia não é das melhores, mas só me lembro da fruta normalizada quando penso nesta questão!
O molho combinará com a pasta?

6 comentários:

Duarte disse...

É uma autêntica política Viagra! Mas os responsáveis políticos são vários, não é coisa só deste ou daquele governo, mas de todos e até a nível europeu, o que torna ainda mais grave a situação, sobretudo numa perspectiva de resolução. No que toca ao Serviço Social, a situação é sintomática, já que foi preciscamente com Bolonha que se começou a verificar o aumento exponencial de novos cursos, contrastando com a situação confortável que se vivia até há poucos anos. O pior é que o aparecimento desses novos cursos não veio acompanhado com qualquer regulação. Hoje temos licenciaturas em Serviço Social quase para todos os gostos, a juntar àqueles que claramente são sucedâneos e que por levarem a palavrinha mágica "social" parece que também habilitam os seus graduados a exercerem como assistentes sociais (ou técnicos de serviço social como alguns colegas da nossa praça tanta questão fazem de afirmar, são os TSSS como vão assinando...). Ainda tive alguma esperança quando no início de 2007 surgiu a Agência de Avaliação e Acreditação para a Garantia da Qualidade do Ensino Superior, mas duvido da sua eficácia, embora confesse que não conheço bem a sua agenda. Preocupante é que com o avolumar do desemprego entre licenciados, inevitável com o engrossamento dos graduados que com Bolonham saem cada vez mais depressa, poderemos estar à beira de uma crise social gerada por tanta gente de expectativas frustradas.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Bolonha não ajudou.
Inicialmente foi dito que os alunos que entraram no antigo regime iam poder concluir o curso nos 4 anos regulamentares.
Afinal criaram-se os planos de transição e os alunos acabam o curso em 3 anos e meio.
Três anos mais um semestre de disciplinas do novo currículo...
Isso não foi nada bom para determinados cursos.

É incrível como as coisas estão difíceis...
No entanto há licenciaturas que não fazem o mínimo sentido, mas que no entanto continuam a funcionar... e a ser publicitadas.
As universidades e politecnicos não sofrem porque existem sempre pessoas que preeenchem as vagas, mesmo nos cursos com baixa taxa de empregabilidade...

E criam-se cursos...
9818 Ciência e Tecnologia Animal
9697 Ciência dos Alimentos
9041 Ciências do Mar
9708 Ciências do Meio Aquático
9047 Ciências Psicológicas
9851 Desporto e Bem-Estar
9738 Educação Social e Desenvolvimento Comunitário
9246 Tecnologia Veterinária

Que cursos são estes?
São hibridos, não carne mas também não são peixe.
São alternativas fáceis/cópias alternativas para cursos como Medicina Veterinária, Nutrição, Biologia, Psicologia, serviço social, etc.
E quem escolhe estes cursos são aqueles que querem ser por ex... veterinários, mas que não têm média...
Acaba por ser um engano, pois os alunos chegam ao fim sem saber exactamente aquilo a que estão habilitados...
Quando se encaram os empregadores não há argumentos nem ferramentas concretas a apresentar.

S Guadalupe disse...

Nandi, os planos de transição tiveram mesmo de fazer-se, por uma questão de justiça para os dos "planos antigos". E as denomições até deveriam ter sido todas uniformizadas...

Não considero que os cursos estejam mais fáceis. Alguns até aumentaram as cargas horárias. Há exigência de avaliação continuada e os alunos têm que produzir mais trabalhos na maioria dos cursos. No entanto, o tempo ajuda a consolidar as aquisições... e neste tempo não há consolidação possível.

Na Europa alinhou-se por baixo... o que não se entende. É altamente paradoxal: provavelmente, pelo sinal dos tempos..., os estudantes deveriam ser retidos até mais tarde no ensino, e encurtaram-se os ciclos.

No Serviço Social, acontece o mesmo que nos outros cursos, com a nuance da multiplicação de cursos pelo país fora. A agência foi criada mas ainda não funciona minimamente...

Sinais preocupantes esta falta de visão sistémica do encadeamento de todos estes factores!

Carlos Veiga disse...

As questões levantadas são bastante pertinentes, mas penso que caberá também às próprias associações profissionais e escolas salvaguardarem-se...
Quanto aos Psicólogos, penso que foi feito alguma coisa ... Se a situação da Psicologia em Portugal já não era a melhor, com as novas licenciaturas de Bolonha, se nada fosse feito seria bem pior!Quer em relação ao mercado de emprego em Psicologia, quer em relação às competências essenciais para se exercer a profissão. Assim, quem tem o curso de Ciências Psicológicas não poderá exercer Psicologia. Foi definido pelas escolas de Psicologia, e agora também pela recém criada Ordem, que só se poderá exercer Psicologia (ser Psicólogo) depois de se ter concluído o 2º Ciclo de estudos de Bolonha, ou seja, Grau de mestre (mais dois anos, sendo desta forma assegurado o mesmo número de anos da licenciatura antiga (5anos). Mesmo estes licendiados, ou agora mestres, para se inscreverem futuramente na ordem terão de ter exercido Psicologia, ou funções na área da Psicologia por um período igual ou Superior a 12 meses. Esta foi a forma que os Psicólogos arranjaram para assegurar tanto a qualidade da formação, como a diminuição do caos que se instalaria com os novos licenciados (3anos),caso nada fosse feito.
Assim, no caso dos Psicólogos, os alunos terão de realizar o primeiro ciclo de Bolonha (3 anos) mais o mestrado integrado do 2ºciclo (2anos). Sendo que, futuramente, só poderão inscrever-se na ordem e passar a membro efectivo, exercendo Psicologia, depois de um estágio de 12 meses na futura ordem.
Penso que o Serviço Social deveria seguir o mesmo caminho...

Cmptos,

Carlos

S Guadalupe disse...

Carlos, tem toda a razão... Os factores que se congregaram para que fosse possível esta "excepção" para a Psicologia (e pouco mais cursos) teve a ver com aspectos transnacionais: a federação europeia de associações de psicólogos (não sei a designação correcta, sorry) possibilitou esta tomada de decisão e esta imposição. Depois, as condições nacionais, tais como a aprovação da Ordem também facilitou. Foi muito positivo.

O Serviço Social na Europa tem estatutos formativos muito distintos e tal não foi possível, nem a nível transnacional nem a nível nacional.

Para os que não sabem... Portugal é tido como referência na formação em Serviço Social a nivel europeu.

Melhores tempos virão!