13.4.09

e onde estão os assistentes sociais nas escolas?? e... entre a fome e uns ténis?

Talvez até tenha razão a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues quando considerou «alarmistas» as notícias que falam em casos pontuais de crianças com fome por causa da crise, um alerta lançado pelo director-geral de Saúde, Francisco George.
No entanto, quando diz que «a mim não me preocupa porque sei e confio que as escolas têm essa política e atitude por sistema: nenhuma criança nas nossas escolas se for identificada como tendo necessidade alimentar fica sem o apoio que a escola possa dar», faz crer quer nas escolas portuguesas existem equipas multidisciplinares que intervêem no sentido de responder a estas situações dentro do quadro do direito e das políticas e respostas sociais disponíveis.
Pois bem, ela está enganada e muito fora de contexto! Aqui é que há muita escassez e não é por alarmismo que o afirmo! A não ser que a sra. ministra defenda que se dê uma sopinha e um pão aos "pobrezinhos" dos meninos... a fazer lembrar outros tempos...
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Na notícia que deu origem a tal reacção da ministra, também faço notar que me arrelia ler as declarações proferidas pela assistente social Serviço de Pediatria do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), quando refere que os casos até agora registados podem dividir-se em dois tipos diferentes: "Existem meninos que dão entrada no HFF com fome e em más condições de higiene e de vestuário e outros que chegam bem arranjados, mas mal alimentados", o que deu origem a um título extremamente populista ("crianças mal alimentadas mas com ténis de marca") e que em nada ajuda a desmistificar as imagens da pobreza. Talvez tenha sido um mau dia... e uma vez mais, a nossa pouca experiência em lidar com a comunicação social.
E com isto, fiquei mal disposta!

11 comentários:

JC disse...

Cara colega Guadalupe não me querendo aqui constituir como advogado de defesa da colega do hospital que nem conheco de lado nenhum considero que o seu comentário não me parece muito propositado pois para quem vai ler a o artigo entende claramente o que a colega pretendeu transmitir e que para quem trabalha no terreno no dia a dia é obvio e faz todo o sentido, pois é uma questão muito pertinente e infelizmente leva a que muitas crianças não tenham necessidades básicas satisfeitas, por uns ténis ou umas calças de marca - o que até dá algum estatuto aos pais, esta é a realidade Guadalupe, e a colega do hospital trabalha com esta realidade, O SÁBIO É O QUE HOUVE SEM SE CANSAR E VALORIZA AS OPINIÕES já agora SEM SE ARRELIAR.

S Guadalupe disse...

Bem sei, bem sei que se reporta ao quotidiano, mas fico sempre muito triste com este tipo de situações, pois depois há um aproveitamento absurdo, como foi o caso da manchete.

Também é muito chato fazer estes comentários relativamente a pessoas e situações concretas, que não conheço, mas todos nós o fazemos sistematicamente com quem vem a público, não é? Lamento, prefiro falar em abstracto sobre tais assuntos. Mas também lamento ter lido o que li e não consegui deixar passar, porque considero desadequado.

Não acho nada ponderados este tipo de comentários secundários por parte de quem deveria ter outros filtros para perspectivar as situações. Porque razão há a necessidade de pontuar o facto de ter aparecido uma ou outra situação de má nutrição em gente com bom aspecto que se veste e calça desta ou de outra forma? Quem é pobre tem de andar a ostentar a pobreza? Quem é pobre não tem direito a ter umas sapatilhas de marca? Há esteriótipos que temos de ultrapassar e não ajudar a alimentar. Aliás, nem a propósito, tinha escrito anteriormente outro post precisamente sobre isto.

Foi nesse sentido o meu comentário, que fique claro. Uma declaração menos feliz não põe em causa os créditos de ninguém. Quantas já produzi eu própria anteriormente e logo me arrependi? Dar a cara tem destas coisas... Para além de que estou mais habituada aqui a aplaudir colegas do que a ficar arreliada, como também saberão os leitores do Insistente Social.

JC disse...

com a resposta da colega Guadalupe acabei por admira-la ainda mais, pois percebi que têm a capacidade de desenvolver além de outras a reflexão autocritica, entendo a sua posição até porque é uma académica. no entanto é importante desmontar a informação de quem está no terreno.
cumprimentos colega é uma boa insistente.

S Guadalupe disse...

Ainda bem que compreendeu. Eu não quis evocar a minha condição profissional, mas na verdade é o que está presente.
Espero que os visados compreendam também e consigam separar águas. bem sei, por experiência própria, que nem sempre é fácil!

S Guadalupe disse...

O JCV é o mesmo JCV que foi meu aluno de estágio em 96, não é? E que encontrei na AR? Sorry, mas às vezes fico na dúvida...

Duarte disse...

Há aqui desde logo uma questão: o filtro dos media. Ora, muitas das vezes, os media não sabem filtrar o que lhes é dito. E por isso resultam manchetes totalmente descontextualizadas e que põem em causa o sentido das declarações dos entrevistados. Isso acontece todos os dias na política, no futebol, etc. Mas compreendo a posição da Sónia e faz-me lembrar um relatório escrito por um professor que um dia recebi. Esse relatório dizia qualquer coisa parecida com isto: "apesar das dificuldades financeiras, a família tem computador em casa com ligação à internet". Lá estão os estereótipos. Por isso, os assistentes sociais devem ser os primeiros a desmontá-los, até porque na actual crise, o mais normal é vermos pessoas com boas casas, bons carros, boa roupa, bom NÍVEL CULTURAL e ACADÉMICO, a recorrer a serviços de apoio social. Constato-o cada vez mais. Há que saber analisar a realidade, fazendo diagnósticos sociais actualizados e que não contenham qualquer tipo de esterótipo. Contudo, também leio nas entrelinhas das declarações da citada colega alguma preocupação em desmistificar a ideia de que o pobre é identificável pela aparência. Também terá querido alertar para o facto de que é preciso ter cuidado com as aparências. É mais provável alguém apresentar queixa a uma CPCJ por ver um aluno mal vestido do que bem vestido. Em suma, faltou uma entrevista, por ventura, mais bem cuidada por quem a elaborou que desse oportunidade de apresentar dados mais científicos a quem respondeu.

S Guadalupe disse...

Disso não tenho dúvidas: do filtro dos media. E agora que o Duarte despertou esta ideia das entrelinhas apontarem noutro sentido: se calhar tem razão, é muito provável que a minha leitura me tenha arreliado de tal forma que não tenha conseguir ver para além... o meu filtro também está condicionado pela minha visão deste tipo de declarações!

Paulo Moringa disse...

Mas a informação é mesmo assim: estica, comprime, distorce, ou seja modifica-se, transforma-sae e transforma, quando circula de "mães em mãos".

Paulo Moringa disse...

digo" de mãos em mãos" como quem diz de boca em boca.

S Guadalupe disse...

Por isso a comunicação consegue ser tão complexa e fascinante.

Numa altura claramente de espectáculo que explora perversamente as realidades vividas, não se pode esperar outra coisa. Aliás, pode esperar-se que mude, mas só muda se o ajudarmos a mudar.

Duarte disse...

Em relação ao "social" são conhecidas as intenções da maioria da comunicação social: sensacionalismo. Até nos programas ditos sérios isso se vê. Por isso talvez também não lhes interesse dar muito tempo de antena a assistentes sociais...