11.9.09

digamos que...

...expressões como "área social", "caso social", et al., que vamos usando e difundindo, são expressões vazias de conteúdo e relativamente às quais deveríamos ser os primeiros a ter uma apreciação crítica.
O que significam afinal? Ironizando, poderia divagar: eu tenho uma área social na minha casa (sala e wc) e sou um caso social porque vivo em sociedade. É isso?

7 comentários:

Duarte disse...

É verdade e acontece que depois outros profissionais de outras áreas usam e abusam desse termo sobretudo quando querem "sacudir água do capote" e empontar a responsabilidade para o assistente social. Mas julgo que se trata de um facilitismo ou cliché de linguagem decorrente de defeito profissional, tal como sucede por exemplo entre os médicos. Caso social poderá ser toda a situação que contém algum problema social que pode ser interpretado mediante indicadores de risco social. O que está errado muitas vezes é a aplicação desse termo a situações que podem não ter essas características mesmo que caiam sob a alçada do assistente social. Por exemplo, nos hospitais sempre que surge alguma família que não quer "levar o doente para casa", imediatamente se aplica o rótulo de caso social. Acontece que muitas dessas situações configuram, acima de tudo, casos de natureza jurídica. Falo daquelas famílias que têm todas as condições económicas e de outros recursos, mas que pura e simplesmente não se querem responsabilizar. Aqui apenas é caso social na perspectiva do doente que acaba por ser uma vítima em situação de fragilidade, ou seja, é um caso social pela via indirecta. Mas de imediato, em vez de se retemer esses casos a um departamente jurídico, envia-se ao Serviço Social. Para concluir, uma vez mais é preciso que o assistente social recorra ao Diagnóstico Social de cada situação e que saiba elencar indicadores críticos.

S Guadalupe disse...

Sim, claro. Seria muito chato (porque a expressão é longa)dizermos "situação-social-problema" ou outra congénere. O problema é não haver (auto-)crítica relativamente a isso. O post tinha como intenção fazer pensar nas expressões que usamos quotidianamente. E é claramente provocatório.

joaquim disse...

sónia, desculpe mas enquanto provocação não percebi bem,
Vamos lá ver. Numa autarquia, quando se fala em área social, associa-se ao departamento da acção social, ou divisão, ou outra lógica enquadradora, e por aí fora. Aliás já tivemos um ministério dos assuntos sociais.
Área Social nestes contextos, é tácitamente entendida como dos problemas sociais (habitação, educação, emprego, acesso á saúde etc). Não falamos da área social das revistas cor de rosa, ou das nossas casas...
Por outro lado caso social, também tácitamente se subentende como caso com problemas no ãmbito da inclusão social.
Isto é de per si estas expressões não são menorativas, nem necessáriamente devem ter menu de como se explica.
Já outros termos esses sim me parecem que merecem um contexto e uma designação técnica apropriada, como diagnóstico social, intervenção social, enfim, parfece-me...

S Guadalupe disse...

Claro que commumente sabemos o que significam, e se as contextualizarem melhor um pouco, mas se formos ao essencial, são vazias.
"Casos sociais" todos somos mas nem todos apresentamos situações sociais problemáticas ou com problemática social. Não gosto simplesmente da ideia do "social" ser associado a "problema".
As palavras têm peso para além de si próprias. A sua conotação nem sempre é a mais interessante e faz-se na práxis em continuidade.
Mas deixem, são divagações epistemológicas... a seu tempo terei mais tempo para dedicar-me a explanar melhor estas provocações que simplesmente pretendem que pensemos na nossa própria linguagem. Reflectir é preciso e começar pelas coisas mais óbvias e simples também...

joaquim paulo silva disse...

Mas estou de acordo, o exercício de reflexão é muito importante, com as palavras que no nosso quotidiano profissional, e que um estudo que compatibilize esta semiótica, e as mutações epistemológicas pode ser muito muito importante. Aliás penso que estes termos provavelmente, são vocabulários introduzidos no quotidiano como ganhos da teoria social. Agora a consciência adequada da utilização terminológica nos contextos é outro campo, e aceito de pleno, que perante formações mais frágeis, licenciaturas mais curtas umas, pouco fundamentadas outras, esta é uma base essencial de trabalho. Não é pois dispiscienda esta temática pelo contrário.

S Guadalupe disse...

Por coincidência recebi hoje um CV (ainda não percebi porquê, mas na verdade já é a sétima vez que recebo candidaturas... não percebo e já desisti de responder) de uma jovem com "Bacharelato em Educadores Socioprofissionais" que afirma ter assumido o cargo de "técnica social"...

Duarte disse...

É uma tentativa de aproveitamento da anarquia em que se transformou o mercado de trabalho na tal área social. Mas no fundo a maior parte das pessoas é vítima de um sistema desorganizado a nível do ensino superior.