18.9.09

sublinhados de campanha 2

"Ajustes de contas" repugnam-me. E de entre todos os fait divers nesta campanha interessante e divertida a que estamos a assistir, não posso deixar de me incomodar com a campanha infâme dos professores (não sou eu que generalizo!) que frequentemente me entra na caixa de correio electrónica. Veja-se: sou professora! Não fui alvo directo da falta de coragem em dar o braço a torcer deste Governo, e que significa o seu mais crasso erro político (porque não foi a mais grave medida a meu ver), porque sou professora de um nível de ensino cujos professores nem sequer são mobilizáveis da mesma forma (ou não o são de todo!). Não senti o incómodo e revolta permanentes que deverão ter sentido os professores do ensino básico e secundário. Não é o caso! Mas é o caso da minha irmã, por exemplo, e de outras pessoas que me estão próximas. Mas, se fosse o caso, por muito esforço que implicasse, e por muito que reclamasse, se bem me conheço, imagino que nem por isso deixaria de conseguir ver para além do umbigo.
Obrigo-me a pensar como cidadã. Gosto de pensar que sou responsável. Afinal o país não se resume à escola, mas é na escola que se joga o futuro de um país. É por isso que não consigo ignorar a melhor reforma do 1º Ciclo do Ensino Básico a que assisti. E assisti "ao vivo", já que a minha filha entrou na escola pública há 4 anos e atravessou a sua implementação. Entrou com o antigo modelo em funcionamento e percebi as vantagens da implementação do novo modelo. E não se pense que tem sido fácil para ela e para os pais. A minha filha foi até obrigada a mudar de escola. Está numa escola de 2º e 3º ciclo a ter aulas do 4º ano, no meio de meninos maiores numa escola maior e pior equipada. No entanto, prefiro pensar que muitos outros meninos e meninas irão beneficiar muito desta escola a tempo inteiro e com actividades ditas extra-curriculares (sonho que sejam curriculares um dia!) a que só os meninos de escolas privadas tinham acesso até há bem pouco tempo. Esta é uma aposta clara no futuro.
Este Governo fez muitos disparates (muito graves, graves e menos graves) e também fez muitas coisas positivas. Como todos, talvez... E talvez o disparate mais facilmente ultrapassável pelo governo que aí venha, seja com que composição for, seja precisamente o da avaliação de professores. Ou já não estarão os professores habituados a que todos anos haja novidades legislativas e nos programas, etc... Será caso para tanto folclore e histeria em campanha? Sinceramente não me parece e cheira-me muito a esturro. Democraticamente, em manifestação, mostraram a sua força e a sua luta (e muito bem) contra os ouvidos surdos do governo. A estratégia mais recente não me parece dignificar em nada a imagem dos professores. Tenho pena que valha tudo nestas coisas eleitorais.
Sempre desejei que a classe profissional dos assistentes sociais tivesse 10% do sentido de classe que outros profissionais apresentam, mas não o imagino para estes fins...

8 comentários:

Duarte disse...

Sejas pragmáticos: é muito mais fácil mobilizar classes profissionais que exercem no mesmo sector, no mesmo tipo de instituições, em que por cada serviço existem às dezenas ou centenas, que uma classe como a nossa, que se encontra dispersa por praticamente todos os sectores da sociedade, em que somos meia dúzia por serviço ou apenas um ou dois. A correia de transmissão neste caso é bem mais exígua que nos outros em que um simples e-mail ou carta chega directamente a dezenas ou centenas de uma só vez. Também temos de ser benevolentes com esta idiossincrasia da classe dos assistentes sociais que para além disso era até há bem pouco tempo ainda menos numerosa e era também mais envelhecida. Mobilizar a dispersão é bem mais difícil e trabalhoso.

S Guadalupe disse...

Pois, esse é de facto o principal problema. Sem dúvida!

Mas ainda ontem uma colega me falava da dificuldade da mobilização das colegas da segurança social... e aí há concentração... o que leva a pensar que a dificuldade é também de outra ordem...

joaquim disse...

Neste campo estou plenamente de acordo com a Sónia até por experiência pessoal, o problema da mobilização na classe dos assistentes sociais, é de outra ordem, infelizmente para o processo da Ordem...

Duarte disse...

Na vossa opinião que outros factores estão na base do problema? Falta de interesse? Desconhecimento acerca dos problemas da classe?

S Guadalupe disse...

Não consigo ter uma leitura clara dos factores. Serão plurais e terão a ver com o processo histórico. Assim como estarão relacionados com questões de género e participação social. Eu sei lá. Seria um óptimo estudo perceber a nossa perspectiva sobre nós (do sujeito individual sobre sujeito colectivo), focalizando esta questão da participação na organização profissional.

Ainda assim, a minha faceta optimista diz-me que o "nós" está mais interessado e atento ainda que hesitante na participação e implicação mais directa. Espero e desejo sinais mais claros do apoio de mais colegas.

joaquim paulo silva disse...

Desinteresse não parece. Algum desconhecimento sim. Hesitação, alguma descrença, não esqueçamos que o processo é antigo, e as questões do género, também, conectadas com o que penso ser um mistério dificuldade de gestão estratégica dos nossos objectivos enquanto profissionais, que são concomitantes muitas vezes com a aprente apatia organizativa interpares nas instituições onde exercemos actividade. Quando digo mistério é porque aparentemente contradição seriamos os melhores colocados, pela própria característica do serviço social...

S Guadalupe disse...

Sim, a descrença é bastante compreensível, mas também já seria tempo de darem o benefício da dúvida e apoiar quem se empenha.

joaquim paulo silva disse...

Pois Sónia essa questão é recorrente a todos nós os que se envolvem na profissão, na verdade a exigência é muita e o apoio é pouco. Mas não há muito fazer. Depois na hora da verdade se o objectivo for conseguido onde aparecer muitas, e afirmarem que sempre estiveram com o projecto não se preocupe Sónia...é sui generis "esta Nação".