30.5.11

Vamos ACORDAR, ou preferem continuar adormecidos?

Queria apenas partilhar que ando profundamente descontente com a falta de mobilização dos Assistentes Sociais para lutar pelos seus próprios interesses e pela defesa dos direitos dos cidadãos com que trabalham.
Gostaria que me explicassem como se puxam rédeas a quem não se quer mexer?

14 comentários:

Duarte disse...

Tem razão, tem razão. Faço a mesma pergunta. Mas eu coloco a questão, logo a partir do quotidiano profissional. Que raio de classe é esta que não tem brio suficiente - sei que há muitas e boas excepções - que não se preocupa com a qualidade do seu trabalho, com uma intervenção social pensada e estruturada. Basta ler muitos dos relatórios sociais que se fazem. No meu dia-a-dia oiço coisas e leio coisas de assistentes sociais que me deixam deveras preocupado. Portanto, quando nem o básico está garantido...

S Guadalupe disse...

(suspiro profundo)

Presidente do Inatola disse...

Boa noite Dra. Guadalupe,
A preocupação é legitima e que eu partilho desde dos anos de estudante. Enquanto estudante questionava-me se acerca das prioridades dos Órgãos de gestão.

Como profissional aprendi que somos uma profissão de segunda categoria, o faz tudo e têm que resolver tudo....Qualquer inovação era vista por uns como mais trabalho e por outros com inveja, alegando a "mania de saber tudo". Enfim... contingências da cultura portuguesa!!!

Numa entrevista para um organismo público a questão mais importante foi se havia colaboração entre Instituições?? Apesar de ter demonstrada que houve parceria dentro das condicionantes de uma organização com parcos recursos, AS do serviço público manteve a sua ideia (errada). Obviamente o resultado foi o esperado. Compreendi que quando estamos numa organização não podemos defender os interesses da nossa entidade patronal e dos nossos utentes, mesmo que os direitos dos nossos utentes não seja respeitados. Aprendi, caso se queira ter outras ambições profissionais não se pode questionar e informar que as coisas não correram bem. Desenvolvia a minha actividade na área dos idosos.

Na minha anterior experiência foi coagido com aumento gradual de tarefas e responsabilidades a tomar uma atitude. Os AS dessa organização afirmavam em off a necessidade de mudança, mas era só em off. Vi os principais actores a serem relegados para 4 plano. Os que podiam exigir, afirmavam não o poderem fazer nada pq não tinham alternativas.

Lembro-me de falar com AS para contribuírem no estudo necessário para Ordem, mas tive sempre a mesma resposta - Isso não vale nada e eles não querem saber de nós!!

Aprendi que não somos uma instituição. Trabalhamos para satisfazer as nossas necessidades.
Aprendi que temos vocação para vedetas e não sabemos trabalhar em equipa. Aprendi que não podemos confiar profissionalmente nos outros e o adagio: Não digas tudo sabes, não faças tudo o que sabes .... é verdade.

Aprendi que meritocracia é um verbo de encher. O melhor mérito é um apelido. (Mas é para todas as profissões).
Admiro determinadas profissões que ao nível pessoal não se aturam , mas qdo há luta, lá estão eles.

Pedido: tente na escola incutir nos alunos ideia de classe profissional.

Um abraço. E a si Dra. Sónia votos de sucesso.

joaquim disse...

Sónia,essa é uma matéria, quase matriz desta profissão pelo menos enfim após, os anos 70, a luta pela Licenciatura e já falamos sobre isso foi feita de altos e baixos, e houve momentos de nula participação. O arranque definitivo, começou aí com a união das duas escolas de serviço social de então (cujo projecto era a Licenciatura) ISSSL e ISSSP, com a APSS e outros profissionais, individualmente falando. Mas a carne para canhão eram os estudantes e não os profissionais (quem saia à rua, para variar).
a grande diferença, hoje é que quem comanda este processo está forçosamente mais sozinho, pela enorme proliferação de Universidades e Institutos com o Curso de Serviço Social, o que dificulta a unidade em torno de uma área que nalgumas dessas Instituições não é prioritária, ou então não lhes convém.
Sinceramente, neste momento, penso que só encontrando parceiros disponíveis mesmo que poucos, para assumir as Lutas deste Projecto Profissional, promover a discussão (como a carta aberta da AIDSS), e sobretudo ir em em frente, assumir o risco, ir á luta, criar um Movimento autónomo que mobilize que incorpore, quem muitas vezes, por razões antigas não se revê nas instituições, mas sobretudo ir em frente, definir prioridades de acção, uma rede nacional, independentemente quem seja mas se está disponível optimo. Mas seguramente e sem menorizar outras capitais, centrar a mobilização a partir de Lisboa, Porto, Coimbra e Faro. Depois, discutir temáticas centrais: o pós bolonha, a qualidade, a sindicalização, o curricula minimum, as áreas de intervenção, a empregabilidade (potencialidades e rupturas), as condições de exercício, o número de pós graduações, mestres e doutorados, a afirmação da identidade, o diálogo, a consistência no projecto e na acção. Sobretudo, a capacidade daqueles que têm estado envolvidos nestes anos, dialogarem, sem pré conceitos, como aconteceu, com o o documento assinado em Coimbra sobre Bolonha. Se todas(os) estes actores derem o exemplo talvez consigamos mobilizar um pouco mais, senão pelo menos mobilizamo-nos a todos melhor e articuladamente.

S Guadalupe disse...

Há muitos factores em análise. Eu tento não generalizar, mas curiosamente quem continua a aparecer e a fazer ouvir a sua voz, são os/as colegas mais velhos, com maior percurso... são os mais implicados.

Temos obviamente de repensar estratégias.

Anónimo disse...

Compartilho convosco o pesar sobre o momento em que se vive, aqui em Portugal sobre a trajetória profissional do Serviço Social. Já tenho feito aqui alguns comentários, alguns provavelmente até inoportunos que faz-me parecer uma ufanista da trajetória profissional do Serviço Social no Brasil. Na verdade, em minha ingenuidade, acreditava que estávamos em pé de igualdade, tendo em vista, os muitos bons artigos que li na Revista Serviço Social e Sociedade de alguns autores portugueses... inclusive, como docente, cheguei a usá-los vez por outra. No entanto, quando há quatro anos vim viver cá... passei por uma grande decepção, quando percebi a desarticulação aqui existente e a luta por ainda se conquistar uma Ordem, para além das muitas profissões que se interferem no exercício profissional de competência do Assistente Social.
Sempre entendi que a luta é de todos nós profissionais, em exercício ou não, independente de nacionalidade.
Os avanços e recuos deveriam ser um mérito de todos os/as Assistentes Sociais. No entanto, nunca entendi o movimento das coisas... acompanho assíduamente as discussões, e sim, o que vejo é o grande aleijão na cultura portuguesa sobre o medo de se manifestar e opinar efetivamente sobre as coisas, exalta-se e até humilha-se o outro por muito pouco, mas quando se fala em lutas concretas... poucos se manifestam, e quando o fazem são enxovalhados.
Sim, quem já está exercendo, vai se anestesiando aos poucos com a rotina e relações de poder existente nas instituições, infelizmente há lacunas no código de ética e na própria formação profissional que permite que podemos vermos algo mal, mas não há como recorrer com a ação profissional anti-ética e inadequada para que os bons profissionais seja defendidos.

Ainda esses dias, estive numa formação parental, enquanto mãe, e precisei engolir da formadora, que não sabia a minha profissão(como brasileira, presume-se sempre que sou mais uma imigrante invisível), dos pareceres inadequados que ela recebe por parte dos Assistentes Sociais que em minutos desarticula e até destrói uma família, sem dar a essas famílias a devida hipótese e encaminhamento. Sinceramente, se estivesse no Brasil, poderia até processá-la, mas como já tenho visto coisas tão estranhas, precisei calar-me sem poder defender a categoria de forma conveniente, sim, porque no Brasil há um certo coorporativismo e defendemo-nos sempre. E como se ainda não bastasse, há pouco estive numa conferência internacional sobre Metodologia em Serviço Social. E o que entendi é que se há uma mentalidade positivista e funcionalista do Serviço Social português, e que abraça o Serviço Social americano como meta; com a crise social que se levanta tal e qual um tsunami, cá em Portugal; e que a ala dos assistentes sociais de viés marxista do auditório da conferência ouvir que devemos "evoluir do marxismo crítico", sim isso foi uma punhalada no meu coração latino americano(risos). Compreendi finalmente que não há ferramentas para a luta, para a argumentação crítica e para a mobilização.
Há aqui, a questão cultural, do medo do fantasma do Salazar, embora já estejamos numa espécie de pseudo-democracia. E que de forma transversal contamina o ideal profissional do Serviço Social. E penso principalmente, diante de toda a transformação que a sociedade portuguesa atravessa neste momento, sim, sou ousada em dizer... haverá aqui, uma urgência em mobilização profissional nos moldes da nossa Reconceitualização do Serviço Social latino americano, para romper com algumas teorias e buscar outra que respondam de forma eficaz com a questão social emergente e que delimite as competências e atribuições profissionais de forma a delimitar a ação profissional de outras profissões, antes que, daqui a pouco, o Assistente Social português não se faça necessário, entre em extinção vagas de emprego e que outras categorias de ramificação do Serviço Social se tornem tão ou mais importantes, dado ao que já tenho visto uma mobilização de categorias, muito maior por parte destas.

Presidente do Inatola disse...

Bom dia Dra. Sónia,
Talvez fosse pertinente verificar o local de trabalho dos AS e fazer correlação com a sua actividade sindical ou luta pelos direitos da classe profissional.

Empiricamente posso dizer: Há segurança laboral = mais activismo;
Menos segurança laboral = nulo activismo (medo).

Um abraço a todos.

joaquim paulo silva disse...

Realmente Sónia há várias leituras a serem efectuadas.
A questão dos profissionais mais velhos, mais engajados é uma grande grande verdade. Aliás há pelo menos 20 anos que frequento estas coisas, e...costumo ver muitas vezes os mesmos...isso poderá ter várias origens, mais ligação dessa geração com a participação cívica, advinda dos movimentos ou contra a ditadura, ou dos católicos empenhados na mudança, mas também e é bom tentar identificar este factor: o de menor talvez grau de identidade profissional hoje.
Há algo que posso dizer Sónia: Os líderes têm um papel importante, de estabelecer uma dinâmica ganhadora e empurrarem os outros, mesmo que no inicio sejam poucos, como em tudo e com certeza que sabe tão bem ou melhor que eu, as Lideranças são fulcrais nestes processos.

S Guadalupe disse...

Obrigada pelos contributos.
Ando cansada, cansada demais... e é só um desabafo que quem está muito cansada...

Anónimo disse...

Seu desabafo não será em vão acredite...

Patrícia C. disse...

Boa noite Dr.ª Sónia.

Assumo com orgulho a minha opção académica - Serviço Social, tenho 29 anos e sou licenciada há 6. Concordo com muitas das perspectivas antes indicadas pelos colegas mas não posso deixar de focar uma questão - a importância das universidades / institutos para a mobilização dos estudantes para a pertinência da questão da mobilização, da construção de uma identidade profissional sólida. A impressão que tenho é que o que é dado a entender na universidade é que a profissão - Assistente Social, é algo afirmado, sólido - Tudo o que há a fazer é conseguir entrar para o mercado do trabalho e esperar o vencimento no final do mês. No geral, a perspectiva que tenho é que durante o período da licenciatura os alunos são "bombardeados" com matéria, com informação, mas raramente há espaço para debate, espera-se que a identidade profissional se construa no terreno. Então e quando o terreno não permite o desenvolvimento das competências que teoricamente foram adquiridas durante a licenciatura?! Não há trabalho para a maioria, e aquele que ainda vai havendo é muitas das vezes precário, demasiado precário para que sequer se pense noutra coisa que não seja nas condições do vínculo e no vencimento. Então e a identidade profissional sólida?! E a consolidação dos valores e da ética da profissão?! Não há "terreno" para se desenvolverem! São depositados naquele caixote onde também se colocam as expectativas goradas, os planos para uma carreira repleta de sucessos.
Posso agradecer a alguns excelentes professores (2 ou 3) que tive no decorrer da licenciatura que sempre me incentivaram a desenvolver um espírito crítico e auto mobilizado. Não estou onde quero chegar e entre mim e os meus objectivos há um longo e sinuoso caminho, e sabendo que muito não dependerá de mim ou da minha vontade, sei porém que no que depender de mim, a vontade tornar-se-á realidade.
Consigo compreender o descrédito, a desilusão e até mesmo o abandono de muitos dos profissionais no activo e dos licenciados que ainda não tiveram uma oportunidade contudo, ainda que compreenda, NÃO ACEITO, EU NÃO ME RESIGNO!

Serviço Social é algo demasiado Nobre para ser votado ao descrédito por aqueles que um dia investiram energia vital para concluírem com sucesso a licença que lhes foi dada para aprenderem - a licenciatura (ou até mesmo o mestrado).

E se há algo que consigo entender ainda melhor é o seu cansaço, e esse eu aceito, é justo, é válido. Mas vale a pena procurar energias para prosseguir, a sua campanha é demasiado importante para ser abandonada. FORÇA!

Patrícia Guedes de Carvalho

S Guadalupe disse...

Pelos vistos, precisamos mesmo de reflectir e de pensar em estratégias de empowerment para a própria profissão.
Há que queira pensar e discutir estas questões de forma fundamentada e ainda bem.
Um bem-haja a todos e todas.

anita disse...

Ao fim de 25 anos de profissão, continuo a constatar a mesma realidade:cada profissional vive sózinho/a com as suas preocupações, as suas angústias, é uma classe pouco solidária entre si, embora faça o melhor pelos seus utentes/ clientes
(quero acreditar que sim)e, em muitos casos não se afirmam enquanto técnicos com saberes específicos, na intervenção social e que devem ser respeitados e reconhecidos enquanto tal. Os desafios diários exigem uma grande dose de inteligência emocional, muita maturidade e em simultâneo muita humildade para aprender (o que também falta a alguns). Aprendemos a trabalhar em equipa, a sermos a ponte entre os vários actores sociais, as instituições, as famílias...Mas temos dificuldade em criar as "pontes" entre no seio da classe...para além de existirem A.S. de 1ª, de 2ª e até de 3ª... Parabéns pelo blog. Pode ser uma "ponte"...saudações. Ana Fátima

Unknown disse...

Boa Noite :)
Deixo aqui a minha opinião num assunto que penso ser o ponto fulcral para o desenvolvimento da nossa profissão e apresento três ideias que para mim são essenciais.
A primeira reflexão é que se no terreno as assistentes sociais não são capazes de criar relações privilegiadas (devido à sua especificidade e objectivos inerentes ao serviço social que deveriam estar a cima das instituições onde trabalham) de trabalho não é possível "chegar-se" a uma classe. Comecei a trabalhar há 10 anos atrás, numa instituição que nunca tinha tido uma assistente social, uma das minhas primeiras acções foi delinear a rede existente e contactar as colegas dos vários serviços. Tive muito mas mesmo muito pouco apoio, até cheguei a ter uma colega bem mais velha que me enxovalhou. Após 10 anos continua a ser complicado trabalhar numa rede em que chame de COLEGAS às Assistentes Sociais das várias áreas na zona onde trabalho, até eu tenho dificuldade em ter esse acto, pois nunca o adquiri no início da minha carreira.
2ª ideia é sentir que as acções desenvolvidas pela APSS é desadequada à realidade desta profissão exemplo é o custo do seminário que para uma grande maioria de assistentes sociais que são as que trabalham em IPSS´s e que são bem mais mal pagas que as colegas que trabalham no estado é incomportável. E a minha percepção do trabalho da APSS é boletim e pouco mais.
3ª Como é possível continuar a ser confrontada com supostas Assistentes Sociais que não têm curso de Serviço Social, mas sim curso de Sociologias, Politicas Sociais etc. Isso é devastador para uma profissão e para a sua identidade! E nunca vi posições concretas dos organismos que o deveriam ter como o sindicato e a associação.

Acabo partilhando a minha paixão por esta profissão e pelo orgulho que tenho por ter sido aluna do ISSSL, que me preparou e deu ferramentas para me desenvolver como Assistente Social. Como disse sou uma “daquelas” mal pagas numa ipss, mas preenche-me como pessoa ir todos os dias para o meu local de trabalho e fazer algo que tanto gosto.
Rute Ramos